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Pesquisa: classe média vai mais a restaurante no dia a dia

25 ago 2011 - 11h32
(atualizado às 12h45)
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Desde que começou a trabalhar em uma escola de idiomas, a recepcionista Ana Carolina Naranjo dos Santos, de 20 anos, trocou as refeições que ela própria cozinhava por lanches e salgados. "Antes eu fazia o almoço e o jantar. Agora, pedimos pizza umas duas vezes por semana. Também parei de fazer a marmita para o meu marido. Agora ele recebe ticket (refeição) e come lá perto do trabalho dele. É mais prático", diz Ana Carolina.

A mudança nos hábitos da secretária e de seu marido é uma tendência que vem se solidificando no Brasil, na esteira do aquecimento do mercado de trabalho, conforme mostra uma pesquisa inédita do Data Popular. Um dos motores dessa mudança é justamente a maior presença feminina no mercado de trabalho. "Primeiro, porque a mulher agora trabalha e precisa comer fora. Mas também porque os afazeres profissionais não lhe dão mais tempo de cozinhar para o marido, que passa a pagar por sua refeição fora também", diz Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular.

Disk-pizza e congelados
Além das lanchonetes e restaurantes, as mulheres impulsionaram também o mercado de "delivery" e de comida semipronta congelada, cuja adoção por parte das classes emergentes surpreendeu a direção da Data Popular.

Hoje, de acordo com o levantamento, oito em cada dez brasileiros que costumam fazer pedidos de entrega em domicílio são das classes C, D e E. Do total da população brasileira, 45,6% usam restaurantes "delivery". Destes, mais da metade (51,8%) pertence à classe C e o restante é dividido entre classe A e B (22%) e D e E (26,2%). Sem ficar o dia todo o casa, famílias também recorrem a pratos congelados, comprados por 58% dos setores A e B; 44% por C e 65% D e E.

O fim da marmita?

A maior participação das brasileiras no mercado de trabalho acabou tendo impacto também em como os homens se alimentam. Assim como o marido de Carolina, sem esposa em casa, muitos trabalhadores estão deixando de levar marmita. Essa tendência, no entanto, não se explica apenas pela ida da mulher às empresas, como explica o sociólogo Fábio Mariano Borges, especialista em comportamento do consumidor e professor de Ciências do Consumo Aplicado da ESPM. "Para a surpresa de muitos, mesmo entre trabalhadores braçais, a prática de levar marmita está acabando", diz Borges.

"Isso se explica tanto pela nova posição da mulher como pela falta de tempo de ambos de fazer compras no mercado, e pela praticidade de se comer em restaurantes, que servem pratos feitos (PFs) a preços acessíveis", afirma. "Em São Paulo, por exemplo, a dificuldade de se carregar a comida por várias horas em diversos meios de transporte também é um ponto contra."

''Eu mereço''
Almoçando em uma lanchonete na região oeste de São Paulo, o pedreiro Manuel Alves, de 51 anos, conta que intercala os PFs com a comida que traz de casa. "Marmita cansa. Minha mulher até cozinha bem, mas mesmo assim a gente enjoa. Fora que dependendo da obra em que estamos, não tem onde esquentar", diz.

Manuel acrescenta que às vezes vale a pena gastar um pouco mais para comer o arroz, feijão, carne e batata frita servidos na lanchonete por R$ 12. Para Borges, da ESPM, esse pensamento de que às vezes vale a pena comer fora permeia hoje todas as classes sociais, não apenas A e B. "É o que chamamos de autoindulgência. 'Trabalho tanto o dia todo que mereço não ficar com a barriga no fogão. Vou pedir uma pizza'. E isso vem crescendo", afirma o professor.

Ele explica que isso se deve também à melhora nas opções de "delivery" e ao fato de esses serviços serem mais acessíveis, inclusive aceitando vale-refeição e fazendo descontos. "Hoje, qualquer pizzaria oferece promoções de juntar cupons para trocar por refrigerantes ou pizza grátis, seja nos bairros de maior poder aquisitivo até no disk-pizza de Cidade Tiradentes".

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