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Como os carros elétricos vão conquistando a Noruega

17 mar 2017 - 10h22
(atualizado às 14h31)
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Com mais de 100 mil unidades, os noruegueses têm a maior taxa per capita de automóveis movidos a eletricidade. E já falam em eletrificar toda sua frota até 2025 - uma meta ousada para um superprodutor de petróleo.

Um carro elétrico circula nos arredores de Olso, capital da Noruega
Um carro elétrico circula nos arredores de Olso, capital da Noruega
Foto: Deutsche Welle

Em 2007 estavam registrados na Noruega meros 321 veículos movidos a eletricidade. No fim de 2016, havia mais de 100 mil deles nas estradas dessa nação escandinava de 5,2 milhões de habitantes. Nenhum outro país chega sequer perto dessa proporção de carros elétricos per capita.

"Acho que, dez anos atrás, a situação de hoje seria considerada ficção científica", comenta Erik Figenbaum, um dos engenheiros-chefes de pesquisa do Instituto de Economia do Transporte em Oslo. "Quando falamos com pesquisadores e políticos de outros países, eles não conseguem acreditar no que está acontecendo na Noruega. Tem havido um tremendo desenvolvimento."

Do ponto de vista dos proprietários, o sucesso se deve a dois fatores: automóveis elétricos são baratos e convenientes. "Você paga impostos muito mais baixos, por isso é mais em conta do que um carro a diesel ou gasolina. E se pode ir pela faixa dos ônibus até a cidade, então é bem rápido para chegar ao trabalho", comenta Inger Sethov, enquanto limpa a neve de seu Volkswagen e-UP!, já se preparando para passar ao largo das longas filas de engarrafamento no caminho do trabalho, em Oslo.

Graças a um incentivo do governo, ela não pagou o Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) para seu veículo, o que já abateu respeitáveis 25% do preço de compra. Além disso, pode estacionar e abastecer de graça no centro, tem uso livre das barcas e acesso às faixas de ônibus. "Não há como ficar na dúvida", resume.

Inger Sethov é uma feliz proprietária norueguesa de carro elétrico
Inger Sethov é uma feliz proprietária norueguesa de carro elétrico
Foto: Deutsche Welle

Mais do que uma fantasia verde

O mercado de carros elétricos da Noruega dobrou a cada ano desde 2011. Hoje quase 40% dos automóveis vendidos são movidos a eletricidade, e a marca dos 50% já está à vista.

Mais de 2 milhões de veículos a combustível fóssil ainda circulam pelo país, porém, inspirados pelo sucesso que os cortes de impostos proporcionaram aos elétricos, certos políticos querem banir a gasolina e o diesel até 2025.

"Deveríamos tornar mais caro dirigir um carro a gasolina, dando mais incentivo para as pessoas mudarem", sugere o deputado verde Eivind Trædal, membro do conselho municipal da capital. "Acho que o mais importante é termos uma abordagem equilibrada, usando tanto o açúcar quanto o chicote."

Não se trata apenas de uma fantasia otimista do Partido Verde: há tempos é grande o consenso político no sentido de eletrificar toda a frota automobilística norueguesa. Além disso, conta-se com maioria parlamentar para taxar ainda mais os veículos a combustível, segundo o princípio "quem polui, paga".

"Podemos impor impostos ainda mais altos sobre os carros a gasolina e diesel, se quisermos. Por isso, acho que seja potencialmente possível no futuro fazer a transição para um setor de veículos de passageiros quase inteiramente elétrico", estima Figenbaum. No entanto ele duvida que o prazo até 2025 seja viável. "Acho que é um pouco de exagero, pois ainda há áreas remotas na Noruega, ainda tem gente que dirige distâncias longas."

Para Marius Holm, da Zero Emission Resource, Noruega é hoje laboratório de automobilidade elétrica do mundo
Para Marius Holm, da Zero Emission Resource, Noruega é hoje laboratório de automobilidade elétrica do mundo
Foto: Deutsche Welle

"Laboratório" para uma mudança global?

O crescimento dos automóveis elétricos na Noruega tem superado todas as expectativas. Políticos e fabricantes de carros estrangeiros visitam o país para ver de perto como funciona um mercado de massa de carros elétricos.

"Presidentes de montadoras vieram à Noruega para entender o que acontece quando se tem uma adaptação em massa a veículos elétricos", relata Marius Holm, diretor da fundação ambiental Zero Emission Resource Organisation, especializada em questões de emissão de carbono.

"Eles vêm para estudar a infraestrutura, redes de carregamento, como tudo funciona. No começo nós éramos um mercado inicial que criou volume. Agora, nosso papel é ser o 'laboratório' onde se vê como as coisas funcionam."

Indústria petrolífera contribuiu para aumento de 80% das emissões de gases-estufa da Noruega
Indústria petrolífera contribuiu para aumento de 80% das emissões de gases-estufa da Noruega
Foto: Deutsche Welle

Indústria petrolífera é maior obstáculo ambiental

Contudo nem mesmo uma conversão para 100% de carros elétricos bastaria para a Noruega cortar suas emissões até o nível a que se comprometeu na cúpula do clima de Paris. Como um dos maiores produtores e exportadores de petróleo e gás natural do mundo, ela depende do comércio de emissões e de ajuda contra o desmatamento para cumprir seus compromissos ambientais.

"A Noruega é um dos dois países da Europa onde as emissões de gases do efeito estufa ainda estão crescendo", lembra Nina Jensen, diretora do escritório local da ONG ambientalista WWF. "Há pouca vontade política para conversar sobre nosso maior emissor, que é o setor petrolífero. As emissões de petróleo e gás aumentaram 80% desde 1990." É aí que os noruegueses devem agir, se quiserem fazer algo contra as mudanças climáticas, conclui.

Por enquanto, o segundo carro da família de Inger Sethov ainda é movido a combustível fóssil, mas com a nova geração de carros elétricos maiores e de maior alcance prestes a chegar ao mercado, ela está pronta a se converter para a eletricidade total. "Da próxima vez que comprarmos um carro grande, o que provavelmente não vai demorar, ele também vai ser elétrico. Dentro de um ano ou dois, vamos ter dois automóveis elétricos."

Salão do Automóvel de São Paulo 2016 | Especial | CARRO:
Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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