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Atuação social que busca lucro é nova tendência

Ainda incipiente no país, negócios sociais procuram ter impacto social positivo e, ao mesmo tempo, gerar renda para o empresário

17 abr 2014 - 08h00
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Tatiana Magalhães criou, com outros três sócios, a Saútil, plataforma virtual que disponibiliza a usuários informações sobre a rede pública de saúde. Segundo ela, não foi o dinheiro que me atraiu, e sim o prazer de ajudar as pessoas
Tatiana Magalhães criou, com outros três sócios, a Saútil, plataforma virtual que disponibiliza a usuários informações sobre a rede pública de saúde. Segundo ela, não foi o dinheiro que me atraiu, e sim o prazer de ajudar as pessoas
Foto: Divulgação

Na nomenclatura, parece tudo muito claramente dividido: primeiro setor é o governo; segundo, a iniciativa privada e terceiro, as organizações não governamentais. Na prática, em alguns momentos os setores se confundem: há estatais com atividades semelhantes às da iniciativa privada, por exemplo. Um novo tipo de negócio – terreno fértil para pequenas e microempresas – embaralha ainda mais essa distinção: os negócios sociais.

O nome já indica: trata-se de empreendimentos que têm a pretensão de dar lucro e ajudar muito as pessoas. É o tema mais candente entre os estudiosos do terceiro setor hoje em dia. “Conceitualmente, é um negócio autossustentável, com impacto social e cujo lucro pode ser todo reinvestido na empresa ou distribuído em parte entre os acionistas”, explica o professor Edgard Barki, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Eaesp). No Brasil, tem predominado o último modelo, com distribuição de lucros.

O que seria, no entanto, o tal impacto social? Barki lembra, por exemplo, de iniciativas que busquem dar, para pessoas de classe baixa, acesso barato a serviços básicos, como saúde e educação. O foco, como ressalta o professor, é o “bem-estar” de quem está sendo beneficiado.

O assunto é tão novo no Brasil que a própria FGV-Eaesp começou a oferecer disciplinas sobre negócios sociais apenas há dois anos. Outras universidades também estão se voltando para esse tipo de empreendimento. Mais um sinal de que o segmento está em alta? “Em 2011, havia apenas um fundo de investimento para negócios sociais no Brasil. Atualmente, há vários”, declara Robert Parkinson, coordenador de parcerias da Artemisia, organização de fomento a negócios sociais. “O setor ainda não está maduro, mas se encontra bem mais desenvolvido do que há três anos”.

Não é à toa que o segmento é visto como promissor. Segundo Parkinson, “65% da população brasileira é de baixa renda, e representa uma proporção de 50% do PIB”.

A Artemisia faz, entre outras coisas, um trabalho de aceleração de negócios sociais, ou seja, dá consultoria tanto coletiva quanto individual para iniciativas selecionadas e que atendam ao objetivo de produzir impacto social. Apenas em 2013, segundo Parkinson, mais de 600 negócios, principalmente na área de educação, pleitearam a ajuda da Artemisia para se desenvolverem, dos quais a organização escolheu 21 para trabalhar mais profundamente. “Procuramos exemplos que inspirem, ideias escaláveis, empreendedores experientes que busquem impacto social”, diz Parkinson.

Caso

Um dos casos mais famigerados é o da Saútil, plataforma virtual, no ar desde 2011, que agrega informações sobre atendimento público de saúde para consulta pública. Gratuitamente, os usuários ficam sabendo quais os postos mais próximos de suas casas para um determinado problema de saúde e onde conseguir remédio de que precisem.

“O lucro ainda é latente, mas não foi o dinheiro que me atraiu, e sim o prazer de ajudar as pessoas”, diz Tatiana Magalhães, que fundou a empresa com outros três sócios. “Percebemos que, muitas vezes, as pessoas não se tratavam corretamente não só por falta de dinheiro, mas, também, por falta de informação.”

A ideia surgiu em 2010, quando nem se falava ainda de negócios sociais no Brasil. O contexto, no entanto, mostrava que o plano teria potencial. “No Brasil, 75% das pessoas não têm plano de saúde, e muitos dos que existem não incluem fornecimento de remédios entre seus serviços”, observa Tatiana.

Se há uma parte do site gratuita, voltada à população de baixa renda, a plataforma também tem um espaço pago, no qual as pessoas têm acesso a um atendimento exclusivo e individualizado. “São programas pelos quais se paga uma média de R$ 24 mensais, que podem ser comprados tanto por empresas para seus funcionários quanto por indivíduos”, afirma a fundadora da Saútil.

No momento, a plataforma conta com mais de 60 mil usuários escritos, entre pagantes e gratuitos. A principal fonte financeira da Saútil ainda são os recursos aportados pela Vox Capital, primeira empresa especializada em investimento em negócios de impacto social. A expectativa, no entanto, é que a empresa deverá se tornar autossustentável até outubro de 2013, com a venda dos pacotes de programas.

Tatiana – que, assim como seus outros sócios, trabalhava antes em uma grande empresa – decidiu, no final de 2012, largar o emprego estável para se dedicar à Saútil. Como acontece com todo mundo que abre um negócio próprio, a decisão foi difícil. Já a motivação foi um pouco diferente: “A decisão final foi por querer ajudar pessoas, entregar algo maior a elas”.

Fonte: PrimaPagina
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