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Veja 5 desafios que próximo governo enfrentará na economia

PT e PSDB podem divergir em muitos temas, mas a desaceleração do crescimento parece ter criado um certo consenso de que a economia está em uma encruzilhada

23 out 2014 - 09h58
(atualizado às 13h39)
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Tanto Aécio quanto Dilma prometem ser firmes contra inflação
Tanto Aécio quanto Dilma prometem ser firmes contra inflação
Foto: Thinkstock

Seja quem for o vencedor da votação deste domingo, dia 26, este terá de tomar decisões-chave sobre questões que afetam o seu bolso.

PT e PSDB podem divergir em muitos temas, mas a desaceleração do crescimento parece ter criado um certo consenso de que a economia está em uma encruzilhada.

Como os tucanos costumam enfatizar, a expectativa oficial é que o País cresça só 0,9% este ano e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, estimando uma expansão de menos de 0,3%.

Por outro lado, como ressaltam os petistas, o desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que tem evitado que a população seja duramente afetada - embora não esteja claro por quanto tempo esse cenário positivo no mercado de trabalho pode ser mantido sem uma retomada.

Economistas de diversas linhas teóricas concordam que impulsionar a economia depende tanto de uma agenda de curto prazo, que inclui o controle da inflação e ajuste das contas públicas, quanto de uma de longo prazo, ligada a reformas estruturais.

Confira abaixo os seis desafios que, na opinião deles, o novo governo deve enfrentar na área econômica:

1) Inflação

Boa parte dos brasileiros já sente o peso da alta de preços no bolso e caberá ao próximo governo evitar um descontrole nessa área.

Aécio Neves, do PSDB, diz que perseguirá uma meta de 3% de inflação e a presidente Dilma Rousseff, do PT, garante que será "duríssima" contra o problema.

Espera-se que a alta de preços deste ano fique próxima do teto da meta do Banco Central – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

Para muitos economistas, porém, a meta só será alcançada com o adiamento dos reajustes de preços administrados (definidos ou influenciados por órgãos públicos).

"Em 2015, será difícil evitar a recomposição de alguns desses preços, o que deve ser um desafio a mais no controle da inflação", diz o conselheiro senior e ex-vice presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto.

Entre os que podem subir estão o preço da energia, as tarifas de ônibus e combustíveis.

Canuto explica que, em 2015, uma possível desvalorização do real também pode ter um impacto inflacionário adicional (em função da alta dos importados).

"Caberá a nova gestão achar uma solução para a questão da inflação, que até pode ser via política monetária. Mas, como os juros já estão relativamente elevados, o ideal seria que se tentasse uma política fiscal mais retraída", opina.

2) Investimentos

O consumo interno e o estímulo ao crédito estiveram entre os principais motores do crescimento brasileiro nos últimos anos.

Os investimentos, porém, não acompanharam essa expansão (e caíram do patamar de 20% para 17% do PIB), o que contribuiu para a freada.

Economistas veem diferentes razões para tal descompasso.

Alguns culpam a falta de reformas para amenizar problemas como a complexa burocracia do País, as deficiências de infraestrutura e gargalos de mão de obra – que inibiriam investimentos.

Outros criticam o governo por supostos erros de gestão que teriam atrasado projetos importantes (como o pré-sal) e afastado empresários de parcerias na área de infraestrutura.

Há certo consenso de que a falta de investimentos também estaria ligada a "expectativas negativas".

Para o governo, porém, esse "pessimismo" seria politicamente motivado e intensificado pela crise internacional. Já consultorias econômicas o atribuem a incertezas relacionadas à condução da política econômica.

Sem destravar os investimentos é difícil pensar que a economia possa voltar a crescer no patamar dos 4% da década passada.

"Por isso, impulsionar os investimentos privados na produção e em infraestrutura será um dos principais desafios do novo governo", diz o economista André Biancarelli, da Unicamp.

3) Contas públicas

Analistas calculam que as contas públicas fecharão 2014 com um "déficit nominal" superior a 4% do PIB – o pior resultado em mais de uma década.

O calculo de tal déficit contabiliza receitas e despesas do governo, além do pagamento dos juros da dívida pública.

O governo se comprometeu a poupar 1,9% do PIB para pagar esses juros, mas há dúvidas sobre se atingirá a meta.

Para Otto Nogami, do Insper, a expansão dos gastos e deterioração das contas públicas têm tido um impacto negativo na inflação, além de abalar a credibilidade do País frente a investidores.

Muitos economistas também vêm denunciando que, em uma tentativa de se aproximar da meta, o governo teria lançado mão de uma "contabilidade criativa" - manobras contábeis que fariam parecer que se estaria economizando recursos, quando isso não ocorreria.

"Para colocar as contas públicas em dia, o novo governo poderia adotar basicamente duas estratégias: aumento de impostos ou corte de gastos", explica Lourdes Sola, professora da USP especialista em economia política.

A primeira seria extremamente impopular. A segunda precisaria ser planejada com cautela - cortar em gastos sociais e investimentos, por exemplo, poderia ser um "tiro no pé".

"A questão das metas fiscais é uma discussão de curto prazo, mas não podemos perder de vista seu objetivo de longo prazo, que é tornar o Estado mais eficiente para investir no que interessa", diz Biancarelli.

4) Inclusão social

O aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do trabalho e programas sociais ajudaram milhares de pessoas a cruzar a linha da pobreza nos últimos anos.

Mas se o País se mantiver com um nível de crescimento baixo, em algum momento o emprego pode ser afetado, colocando em risco esses ganhos.

A campanha do PT tem defendido que o partido seria o mais apto a impedir retrocessos - "protegendo o emprego" e investindo no social.

Já a campanha do PSDB acabou na defensiva, repetindo à exaustão que não pretende cortar gastos sociais ou fazer um ajuste drástico, ao custo de uma escalada do desemprego.

Nogami admite que de fato é possível que um ajuste, ainda que gradual, tenha algum efeito sobre o nível de emprego.

"A questão é que ele é inevitável e, ao adiar essas reformas, também podemos estar aumentando seus custos", opina.

"O grande desafio não é simplesmente crescer, mas sim crescer com estabilidade e emprego", resume Carlos Melo, cientista político do Insper.

5) Problemas estruturais

Há certo consenso de que, para garantir o crescimento da economia no médio e longo prazo, é preciso atacar os problemas estruturais que afetam a competitividade das empresas no País.

Entre eles estão a complexa burocracia e sistema tributário brasileiro e as deficiências de infraestrutura.

"Trata-se de uma agenda de médio e longo prazo, mas que precisa começar a ser colocada em prática o quanto antes", diz Canuto.

O objetivo seria ampliar o chamado PIB potencial do País, que leva em consideração a sua capacidade instalada para estimar quanto ele pode crescer sem que sejam criadas pressões inflacionárias (por falta de oferta).

"O próximo governo precisará fazer reformas estruturais para realmente mudar o ambiente de negócios no Brasil, porque só isso lançará as bases para um crescimento sustentado", diz Canuto.

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