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Reino Unido registra inflação negativa; será que isso é bom?

19 mai 2015 - 15h26
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Brian Milligan

Repórter de finanças pessoais da BBC

Se no Brasil uma das maiores preocupações atuais é com uma inflação acima da meta imposta pelo governo, o Reino Unido vive o outro lado da moeda.

Dados oficiais divulgados nesta terça-feira apontam que os britânicos entraram em período de inflação negativa pela primeira vez desde 1960.

Os preços ao consumidor britânico caíram, em média, 0,1% em abril em relação ao mesmo mês no ano passado. A queda é resultado dos preços mais baixos de energia e alimentos no mercado internacional, além da valorização da libra esterlina.

Por aqui, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 4,56% nos quatro primeiros meses do ano, já superando o centro da meta estabelecida pelo governo para o ano inteiro (4,5%). O acumulado da inflação nos últimos 12 meses é de 8,17%.

Mas será que a situação vivida pelo Reino Unido é motivo de comemoração - apesar de itens como gasolina, comida e passagens aéreas estarem mais baratas lá do que há um ano?

Entenda mais sobre a deflação.

O Reino Unido vive deflação?

Por enquanto, parece mais ser um caso de "inflação negativa" - um fenômeno temporário - do que deflação, considerado um cenário mais duradouro.

O ministro das Finanças britânico, George Osborne, afirmou nesta terça que a queda nos preços não chega a ser uma "deflação danosa" - uma espiral de preços decrescentes que prejudique a economia -, apesar de o cenário exigir "vigilância".

Analistas preveem que a inflação volte a dar as caras no país dentro de alguns meses, ou seja, a queda de preços atual tende a ser um alívio temporário aos consumidores.

A inflação negativa é algo bom?

Neste caso específico, o presidente do Banco da Inglaterra (o banco central britânico), Mark Carney, disse que a inflação negativa é "inequivocadamente boa", já que a baixa nos preços do petróleo e da comida tende a ser benéfica para todos. Até mesmo agricultores podem se beneficiar, porque eles também têm de comprar insumos e combustível.

Em média, a economia feita na compra desses itens deve deixar cada britânico com 140 libras (R$ 661) a mais no bolso no ano.

Em consequência, outros setores - como os de moda e entretenimento - podem se beneficiar desse excedente.

Quando a inflação negativa é ruim?

Comida e combustível são itens que todos temos de comprar para consumir de imediato. Mas outros bens, como televisores e carros, são compras que exigem mais tempo e dinheiro.

Se os preços gerais caem por um período longo, o raciocínio do consumidor é que vale a pena esperar para comprá-los. E se todos adiarem seus gastos - os quais representam cerca de 70% da atividade econômica britânica -, a economia desacelera.

O economista Roger Bootle diz que a inflação negativa tem um lado bom e outro ruim: "O ruim é quando a demanda econômica é tão fraca que as empresas são forçadas a reduzir preços e salários. O bom é quando a inflação negativa deriva da queda no custo dos importados, como é o caso agora".

Como ficam as dívidas?

A inflação negativa - e a própria deflação - não são uma boa notícia para quem toma dinheiro emprestado.

Em um cenário de deflação prolongada, há uma pressão para que os salários se reduzam. Neste caso, uma pessoa que tem de pagar R$ 500 por mês no financiamento de sua casa, por exemplo, verá esse dinheiro se tornar uma parcela maior do seus ganhos mensais. Ou seja, pagar o financiamento ficaria mais difícil.

Não é só pessoas comuns que sentem esses efeitos: governos com dívidas vivem exatamente a mesma situação e se beneficiam se houver algum grau de inflação.

Como ficam os salários?

Em épocas de preços em ascensão, como a vivida pelo Brasil, é mais fácil para as empresas bancarem salários. Mas também é mais fácil para elas dar aumentos abaixo da inflação. Se a inflação for 3% e o trabalhador receber um aumento de 2,5% ele ainda sente que está ganhando um pouquinho mais do que ganhava antes.

Mas num cenário em que a inflação é zero ou negativa, a tendência é que as empresas queiram ou necessitem cortar salários, embora seja uma medida bastante impopular ou difícil de ser implementada.

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