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Regiões autônomas prejudicam medidas contra crise na Espanha

20 set 2012 - 07h45
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O conhecido castelhano não é o idioma que sai da boca de alguns espanhóis. Catalão, valenciana e galego são algumas das línguas que se ouve ao viajar pelas diversas cidades da Espanha. Como em todo lugar, a fala constitui uma parte da cultura de um povo. No caso do país na Península Ibérica, representa também vários povos que formam uma única nacionalidade. Cada uma das 17 regiões autônomas tem suas peculiaridades e riquezas. Todas, entretanto, estão sob a mesma nuvem de preocupação sob boa parte do continente: a crise financeira.

A falta de controle do governo nacional em áreas dos regionais impede gerenciamento da crise
A falta de controle do governo nacional em áreas dos regionais impede gerenciamento da crise
Foto: Getty Images


O governo espanhol é considerado uma monarquia parlamentarista formada pelo rei Juan Carlos I, um parlamento e o presidente Mariano Rajoy Brey, chefe político no país. Além disso, cada estado tem seus próprios representantes na figura também de um presidente e um parlamento. Na parte econômica e financeira, as regiões têm certa liberdade de gestão, com capacidade de determinar a capitação de recursos com impostos. Segundo informações da Embaixada da Espanha no Brasil, também há um fundo do governo central destinado a atender às necessidades destas regiões em momento de crise.



Apesar da grande autonomia, também de acordo com a Embaixada, as comunidades não podem tomar medidas diferentes das nacionais para resolver o problema, mas fazem pedidos de resgate ao Estado da Espanha, como fez a Catalunha à Madri, em agosto deste ano. O déficit alto nos gastos dessas regiões fez com que, além da requisição de ajuda, o próprio governo central tivesse de propor mudanças. O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Kai Enno Lehmann, afirma, porém, que o próprio poder central tem dificuldades de interferir na economia das comunidades. "Elas gastam mais do que recebem. A influência do governo em controlar os gastos nestas regiões é limitado. Os problemas orçamentais que existem na Espanha não são do governo central, são problemas dos governos regionais", explica.



Alemão, atuante no Brasil e com especialização em política da União Europeia, Lehmann diz que uma das propostas seria fixar um orçamento a ser gasto em cada região, com isso não haveria condições de se gastar mais do que se recebe. Entretanto, a sugestão vem gerando debates na Espanha, já que muitos cortes poderiam ser feitos na área de saúde e educação.



Governos regionais atendem melhor às necessidades comunitárias

De acordo com informações divulgadas pela Embaixada, a Espanha é um dos países mais descentralizados da Europa. Essa característica pode jogar contra ou a favor do gerenciamento da crise. Lehmann lembra que, por um lado, os governos autônomos podem dar mais atenção às necessidades e às particularidades de uma região. "Existe a possibilidade de fazer políticas mais focadas nos problemas específicos de cada uma. Isso daria um pouco de flexibilidade ao governo para enfrentar esse problema", analisa.



Contudo, Lehmann lembra que, tradicionalmente, uma autoridade central forte teria mais capacidade de gerenciar políticas de resgate. As brigas internas entre as regiões e entre elas e o poder central impedem que isso ocorra com sucesso. As causas para os conflitos, segundo o professor, vêm de fatos que ocorreram ao longo da história do país. "No caso específico de Catalunha e Madri, teve uma situação na Guerra Civil nos anos 30. Barcelona era cidade da frente contra o Franco, isso incentivou as diferenças que existem entre ela e Madri", esclarece. As culturas distintas que se refletem principalmente nos idiomas falados acentuam a distância entre as comunidades.



O professor Lehmann afirma que as regiões mais ricas do país são País Basco, Galícia e Catalunha. Alguns separatistas desta última acreditam que a independência seria o ideal para a comunidade. Lehmann explica que o argumento dos catalães é de que a separação traria mais recursos financeiros às necessidades da Catalunha, em vez de serem destinados à Espanha como um todo. "O argumento econômico deles seria esse: nós criamos mais riqueza que todas as regiões e ela deveria ficar conosco", ressalta.



Os três estados autônomos centralizam as indústrias e o turismo do país. As obras de Gaudí, em Barcelona, atraem vários visitantes todos os anos. Entretanto, isso não significa que estejam sobrevivendo melhor à crise - os problemas financeiros espanhóis começaram devido a uma bolha especulativa imobiliária. Lehmann explica que vários imóveis foram construídos financiados por crédito fácil, e o mercado implodiu quando aqueceu. Com milhares de casas sem compradores, os preços caíram e as dívidas não puderam ser pagas aos bancos. "Como a Catalunha é uma região muito procurada no mercado imobiliário, sofreu bastante com essa situação", afirma Kai Lehmann.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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