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Redução dos lucros afeta companhias abertas no exterior

10 ago 2012 - 08h03
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Os efeitos da crise internacional também estão se fazendo sentir nas receitas das cerca de 40 companhias brasileiras que possuem capital aberto no exterior, algumas das quais de alta relevância para o mercado estrangeiro. A queda nos lucros acarretada pela desaceleração da economia mundial vem diminuindo o valor das ações das empresas nos pregões internacionais e, além de frustrar os investidores, tem deixado os empresários às voltas com o inchaço das despesas. Porém, à medida que o ciclo da economia entra nos eixos, a perspectiva dos analistas e das próprias companhias é que o segundo semestre traga resultados mais positivos do que o esperado.

No primeiro semestre, a Petrobras e a Vale juntas perderam mais de R$ 55 bi em valor de mercado
No primeiro semestre, a Petrobras e a Vale juntas perderam mais de R$ 55 bi em valor de mercado
Foto: Shutterstock

No caso de grande parte das empresas, a captação de investimentos estrangeiros se dá pelo lançamento dos American Depositary Receipts (ADRs), que declaram a propriedade das ações custodiadas em bancos nacionais. A estratégia costuma ser adotada por grandes companhias, que podem arcar com os custos de abertura do capital no exterior, devido a maior relevância dos mercados estrangeiros frente ao brasileiro, embora a capacidade de levantamento de recursos na Bovespa tenha aumentado muito ao longo dos anos. "A razão de lançar ADRs nos EUA foi, no fundo, motivada pela convicção de que essas operações renderiam emissões do porte que a companhia desejava", explica Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

De fato, as operações são bem sucedidas: as estatísticas de bancos de investimento revelam que o volume de transações de companhias brasileiras no exterior é altamente significativo, com a Petrobras e a Vale figurando entre as dez mais líquidas listadas na Bolsa de Nova York. Castro explica que o interesse dos investidores estrangeiros justifica-se por fatores como a estabilidade da economia brasileira, a autoregulação dos bancos de investimento, o lançamento do novo mercado ‒ que atraiu capital para empresas que estavam começando como S/As ‒ e principalmente o investment grade concedido pelas agências de risco: no ano passado, o Brasil subiu dois pontos na escala da Moody's, o que favoreceu a credibilidade do país junto aos seus credores.

Ainda assim, o complicado cenário econômico internacional influencia a atratividade do mercado de ações: em maio, a Bovespa sofreu desvalorização de 11,86%, a pior queda desde outubro de 2008. No mesmo período, somente a Petrobras e a Vale juntas perderam R$ 56,3 bilhões em valor de mercado. "A desaceleração dos países emergentes, conjugada à crise europeia, fez com que os preços das commodities caíssem e, junto com eles, o valor das ações", explica Raphael Cordeiro, analista da boutique de investimentos Inva Capital. Cordeiro afirma que desde o estouro da crise financeira americana, o ritmo das novas emissões foi muito mais lento do que o observado até então no boom da bolsa brasileira, quando o Ibovespa atingiu a marca recorde de 74 mil pontos, e que a emissão de papéis a valores de mercado inflados no período frustrou investidores e colaborou para a redução da demanda.

Na lista de agravantes, há ainda o peso do câmbio. "No momento em que as ações brasileiras caem e o dólar se valoriza em relação ao real, o investidor estrangeiro acaba sofrendo dobrado, porque eles olham suas cotações em dólar", diz Cordeiro. Quanto aos empresários, a preocupação é com o crescimento das despesas em momento de queda no volume de receitas, como informam pesquisas recentemente realizadas pela Abrasca. O presidente da entidade conta que, entre outros, o custo dos salários em dólar subiu cerca de 80% desde 2005. "Com o mercado em recessão, é muito difícil para o empresário repassar a sua inflação de custos. Genericamente, pode-se falar de um aumento dos custos que não está sendo acompanhado por uma correção de preços", explica Castro.

Para compensar as perdas na bolsa, muitas empresas têm aproveitado a queda na taxa de juros para recorrer à emissão de dívida como instrumento de captação de recursos tanto no país quanto no exterior. Juntamente com o aumento na cotação do dólar e a economia brasileira voltando a crescer cerca de 5% ao ano, o fator tem deixado os especialistas relativamente otimistas. "Com o custo de capital caindo e o crescimento voltando, tem grandes chances do mercado de ações ser um pouco mais próspero do que nos últimos anos", afirma Cordeiro. Embora ainda preocupados com o risco de inflação, os associados da Abrasca preveem para o segundo semestre um crescimento maior que os indicadores de 1,9% divulgados até agora. "Pode ser algo como 2,5%, não necessariamente 3%, mas o fato é que a percepção das empresas é mais positiva. Isso é visto como uma estimativa pessimista", afirma Castro.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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