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Real era pré-condição para 'projeto de país', diz Ricupero

Para ex-ministro da Fazenda, Itamar Franco achava que ainda era possível um plano para acabar com a inflação

1 jul 2014 - 08h01
(atualizado às 12h15)
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<p>"No governo Sarney, a inflação chegou a 85% ao mês, quando entrei [na Fazenda] estava a quase 55% ao mês. Se tivéssemos perdido o controle aquilo teria destruído o governo e criaria problemas graves na sociedade", lembra ex-ministro</p>
"No governo Sarney, a inflação chegou a 85% ao mês, quando entrei [na Fazenda] estava a quase 55% ao mês. Se tivéssemos perdido o controle aquilo teria destruído o governo e criaria problemas graves na sociedade", lembra ex-ministro
Foto: Divulgação

O plano Real, criado há 20 anos, era a pré-condição para a realização de um "projeto de país", diz o ministro da Fazenda à época do lançamento, Rubens Ricupero. 

Após duas décadas, ele afirma que o Real teve um propósito básico: evitar que o País caísse na hiperinflação. “O plano não era o crescimento econômico, a distribuição da renda, a competitividade, a modernização. Ele era a pré-condição”. 

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O também embaixador que durante o período assumiu a Fazenda para que Fernando Henrique Cardoso preparasse sua candidatura à Presidência da República, hoje coordena o curso de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em São Paulo, credita o mérito principal e histórico do Real ao então presidente Itamar Franco, que de acordo com ele, teve a intuição de que ainda seria possível um plano para acabar com a inflação. “O Itamar viabilizou a ideia. Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o quarto ministro da Fazenda dele. A primeira pessoa que ele convidou para o cargo fui eu, que à época era embaixador em Washington [Estados Unidos] e não aceitei a função. Sem ele, o FHC não teria existido”, conta.

Em segundo lugar, o ex-ministro cita FHC como um dos responsáveis pelo sucesso do Real, que aceitou um desafio enorme após os fracassos das moedas anteriores. “Naquele momento, ele era talvez a única pessoa capaz de atrair a equipe de grande nível que criou o plano Real”, composta por nomes como Gustavo Franco, Edmar Bacha, Pérsio Árida, André Lara Resende, Winston Fritsch e Pedro Malan.

Devido a rumores de que o Itamar havia afastado vários ministros por escândalos, as pessoas da vida acadêmica e do mercado que tinham prestígio não queriam atuar no governo, lembra Ricupero. “Só FHC conseguiu isso, só ele tinha aquele charme e o respeito do grande acadêmico”. Ricupero arrisca que tenha sido escolhido por Itamar para gerir a Fazenda por não pertencer a nenhum grupo político, por ser apenas um diplomata, um funcionário público. A partir disso teria tudo para se tornar um bom intermediário entre equipe de FHC e a Presidência, afirma.

Fernando Henrique Cardoso com Itamar Franco no dia de sua posse no Ministério da Fazenda em maio de 1993
Fernando Henrique Cardoso com Itamar Franco no dia de sua posse no Ministério da Fazenda em maio de 1993
Foto: Instituto Fernando Henrique Cardoso

Cercado por um grupo de esquerdistas de Juiz de Fora, que classificava a equipe econômica como pró-banqueira, Itamar tinha "fortes instintos nacionalistas", o que levava a problemas sérios com a equipe do Real. “Como a ideia de tabelar os juros a 12% ao ano, o que é uma loucura para qualquer economista que conhece as forças do mercado”, diz. “Toda vez que saia uma notícia do Itamar na imprensa nesse sentido, algum dos economistas ameaçavam deixar o projeto e eu tinha que garantir que isso não acontecesse.”

Outro detalhe histórico curioso sobre o Plano Real, segundo o ex-ministro, é que não havia uma data certa para o lançamento oficial da moeda, quando a URV, que antecedeu o real, iria parar de valer no País. “Em abril, Itamar e eu optamos pelo dia 1º de julho, pois se demorasse mais, como alguns sugeriam na época, a moeda seria lançada pelo Lula”, afirma em tom de brincadeira.

Itamar Franco: presidente persistiu na busca por plano de combate à inflação
Itamar Franco: presidente persistiu na busca por plano de combate à inflação
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Sobre a questão da aprovação da medida provisória da URV lançada em fevereiro, Ricupero diz que questionou Fernando Henrique a respeito da estratégia que seria utilizada. À época, o temor da equipe era que o Congresso desvirtuasse os objetivos, inserindo no documento temas como previdência e salário mínimo. FHC optou então por renovar mensalmente a MP, mas foi o economista Edmar Bacha que negociou um item na medida para garantir que a moeda valesse automaticamente a partir de 1º de julho daquele ano.

Para Ricupero, embora o plano Real tenha se esgotado, ele gerou avanços essenciais para o Brasil, como a estabilidade econômica e a lei de responsabilidade fiscal, que determina que governos não devem se endividar além de certo nível que comprometa a gestão do País e mandatos posteriores. “Hoje ninguém sabe direito qual o tamanho da conta que deve ser paga pelo governo. A conquista que custou muito para o povo está se perdendo”, avalia.

Fonte: Terra
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