PUBLICIDADE

Por que o preço da gasolina não cai no Brasil?

4 fev 2016 - 12h51
(atualizado às 13h19)
Compartilhar
Exibir comentários
Intervenção em rede de postos do DF pode ter efeito no  curto  prazo,  dizem especialistas, que defendem mais concorrência para reduzir preços
Intervenção em rede de postos do DF pode ter efeito no curto prazo, dizem especialistas, que defendem mais concorrência para reduzir preços
Foto: Agência Brasil

Barril do petróleo despenca a baixas recordes. Mas país, ao contrário de outros mercados, não vê valor do combustível diminuir. Para analistas, principal motivo é a crise na Petrobras. Entenda.

A Petrobras vem optando por não baratear o preço da gasolina e do diesel no Brasil, em alta desde 2009, apesar de o petróleo seguir em queda nos mercados internacionais, indo dos mais de 110 dólares de meados de 2014 para menos de 30 dólares no último mês de janeiro.

A opção é constantemente alvo de críticas, já que em mercados onde há maior concorrência, como o americano, os preços costumam ser reajustados de acordo com as variações nos valores da commodity. Nos EUA, por exemplo, o galão de gasolina está na casa dos 2,05 dólares, menor valor em sete anos.

A Petrobras não reduz o valor da gasolina há sete anos. Pelo contrário: desde 2013, foram quatro reajustes para cima. O preço do combustível subiu 6,6% em janeiro de 2013; 4% em novembro de 2013; 3% em novembro de 2014 e 6% em setembro de 2015.

Já o óleo diesel subiu cinco vezes no mesmo período: 5,4% (janeiro/2013), 5% (março/2013), 8% (novembro/2013), 5% (novembro/2014) e 4% (setembro/2015). A alta foi para as distribuidoras e não necessariamente é o mesmo percentual encontrado nos postos de combustíveis.

"Quando o petróleo estava muito caro no exterior, o Brasil vendia muito barato seus derivados, porque o governo federal queria ganhar as eleições e controlar a inflação", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "O Brasil está na contramão do mundo. As únicas beneficiadas são as exportadoras, porque o câmbio superior a 4 reais torna o produto brasileiro mais competitivo."

Já o analista de petróleo Walter de Vitto, da Tendências Consultoria, pondera que nem toda a queda de petróleo no mercado internacional deve ser repassada para o interno, já que a grande desvalorização do real compensou, em parte, a diminuição do preço da commodity em dólares.

"A política de preços da Petrobras mudou, e a empresa está segurando os preços para reaver o que perdeu entre 2011 e 2014, quando praticou preços abaixo do mercado internacional, e equacionar a situação de endividamento elevado da empresa", destaca.

Consequências para a economia

Para alguns analistas, agora que a inflação está em alta, e o preço do barril no exterior está em baixa, o governo, como sócio majoritário da estatal, poderia repassar a queda do petróleo no exterior para o mercado interno, a fim de estimular a economia brasileira e controlar a inflação.

De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) não deverá voltar a crescer antes de 2018. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em janeiro que a inflação oficial do país fechou 2015 em 10,67%, 4,17 pontos acima do teto da meta inflacionária fixada pelo Banco Central.

"Agora que o petróleo está barato, e o mundo aproveita para reduzir a inflação e beneficiar determinadas indústrias para que haja uma recuperação econômica um pouco melhor, o não repasse da queda do preço do barril no mercado internacional auxilia o aumento da inflação. Além disso, as empresas que consomem muito petróleo não são ajudadas", diz Pires, do CBIE.

De Vitto, por sua vez, afirma que segurar os preços dos combustíveis a níveis mais baixos do que do mercado pode piorar a situação da empresa. "Inflação tem que ser atacada por outras políticas, e mexer em preços relativos já se mostrou ser um péssimo negócio no país. Isso não é uma boa saída", opina.

A diminuição do valor de venda dos derivados de petróleo no mercado interno esbarra, entre outras coisas, na dívida bruta da estatal, de cerca de 500 bilhões de reais, e na dificuldade de obter recursos de investidores internacionais, por conta das consequências da operação Lava Jato.

O não acompanhamento da queda dos preços no mercado internacional poderá, em parte, influenciar de forma positiva o próximo balanço financeiro da estatal. Por outro lado, devem ser observadas questões como os gastos com juros, amortização da dívida, investimentos e trajetória do câmbio.

"Em tese, está sendo feita uma compensação financeira, já que, na época em que a estatal pagava mais caro para importar devido à alta do preço do barril no mercado internacional e não repassava para os preços internos, a empresa registrou prejuízo", afirma Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ. "O valor dos derivados não deve cair a curto prazo no país, dado a necessidade de recomposição de caixa da empresa."

A Petrobras afirma que os reajustes praticados nos produtos para as companhias distribuidoras, sejam de aumento ou redução, evitam refletir a volatilidade dos preços do petróleo nos mercados internacionais e oscilações cambiais de curto prazo.

Em seu site, a estatal afirma que as refinarias produzem e vendem a gasolina 'A' (sem etanol) e diesel 'A' (sem biodiesel) para as diversas companhias distribuidoras de combustíveis autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que fazem a mistura com os biocombustíveis, respectivamente anidro e biodiesel, e revendem para os postos.

"Assim, no preço ao consumidor final estão incluídos, além do preço da Petrobras, o preço dos biocombustíveis, as margens brutas de distribuição e de revenda, e os tributos estadual (ICMS) e federais (Cide e PIS/Cofins)", afirma o texto.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade