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Petroleira de Eike mostra agora seu tamanho real; entenda

Ao se vender muito maior do que realmente era para investidores que acreditaram em seu tamanho irreal, a então petroleira OGX, agora rebatizada de Óleo e Gás Participações, seguiu o entusiasmo excessivo de seu acionista majoritário

19 dez 2013 - 18h54
(atualizado às 18h56)
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<p>Chairman do Grupo EBX, Eike Batista, gesticula durante cerimônia que marcou o início da produção de óleo em 2012 da então petrolífera OGX, no Complexo Industrial do Superporto de Açu, em São João da Barra (RJ)</p>
Chairman do Grupo EBX, Eike Batista, gesticula durante cerimônia que marcou o início da produção de óleo em 2012 da então petrolífera OGX, no Complexo Industrial do Superporto de Açu, em São João da Barra (RJ)
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

As duas alternativas de sobrevivência que restaram à petroleira de Eike Batista, os campos de Tubarão Martelo e Tubarão Azul, evidenciam que a empresa terá o desafio de ser uma companhia independente de produção média com estrutura de grande porte. Os dois campos localizados na Bacia de Campos estão entre projetos de médio porte da indústria de petróleo nacional, mas foram planejados para operar a partir de grandes estruturas desnecessárias.

Ao se vender muito maior do que realmente era para investidores que acreditaram em seu tamanho irreal, a então petroleira OGX, agora rebatizada de Óleo e Gás Participações, seguiu o entusiasmo excessivo de seu acionista majoritário. Um dos erros cruciais da companhia foi a construção e o afretamento de plataformas para grandes campos de petróleo, erguidas pela empresa-irmã de construção naval, a OSX, que acabou tendo o mesmo destino da petroleira: pedido de recuperação judicial, avaliou uma fonte com participação na trajetória da empresa.

Tubarão Martelo, o único campo em produção da Óleo e Gás, produzirá 30 mil barris em seu pico de produção - um terço da capacidade da plataforma ali instalada -, informou na terça-feira o executivo-chefe da endividada petroleira. O navio OSX3 tem capacidade para produzir 100 mil barris diários, capacidade que obviamente não será utilizada neste campo.

"Podia ter dado certo sem esse desperdício de recursos, com uma estrutura muito mais enxuta, de plataformas menores, dívidas menores", disse a fonte, na condição de anonimato. "Já havia a percepção de risco em seus ativos quando essas decisões foram tomadas."

A estimativa de produção de 30 mil barris por dia esperada para o único campo atualmente em operação é, de fato, da nova empresa, a Óleo e Gás Participações. Não tem nada a ver com as metas ambiciosas da ex-OGX, que apontavam para produção de 50 mil barris diários em 2013; 730 mil barris em 2015 e 1,380 milhão de barris/dia em 2019.

Maior que a perna

O passo maior que a perna também é visto na mudança de planos para o campo de Tubarão Azul. Em julho, a petroleira anunciou sua desistência do campo. Deixou de investir e parou de produzir na área, sob a justificativa de inviabilidade e problemas tecnológicos, o que não convenceu autoridades da agência reguladora do setor. Recentemente, a empresa decidiu que vai tentar retomar a produção de Tubarão Azul, voltando atrás sobre sua viabilidade.

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O campo continua o mesmo, o que vai mudar é o custo, segundo a companhia. O diretor-presidente da Óleo e Gás, Paulo Narcélio, disse em evento nesta semana que a companhia busca reduzir os gastos com aluguel de plataforma para tornar a produção viável. Com projetos superdimensionados, vieram também dívidas impagáveis que levaram a companhia à recuperação judicial.

As metas antigas da petroleira fazem parte de um plano de negócios baseado em descobertas na Bacia de Campos realizadas até meados de 2011, que apontavam para um potencial do portfólio de 10,8 bilhões de barris de óleo recuperável. O tempo mostrou que a aposta nessas descobertas foram exageradas, com a empresa desistindo de blocos antes apresentados como grandes ativos.

A empresa informou, por exemplo, a suspensão do desenvolvimento das áreas de Tubarão Areia, Tubarão Gato e Tubarão Tigre poucos meses depois de declarar sua comercialidade, com volume total estimado naquele momento em 823 milhões de barris de petróleo para os três campos. Outro fato que estarreceu investidores foi a devolução de um bloco na Bacia de Santos, o BM-S-57, sobre o qual havia anunciado a existência de reservatórios em águas rasas que representavam "um marco para a indústria".

Na ocasião, a revista Veja publicou em seu site que a área possuía 2 bilhões de barris de petróleo, levando a uma grande repercussão no mercado. A devolução do bloco sem um comunicado ou fato relevante ao mercado para informar o ocorrido despertou críticas de alguns investidores, que acusaram a OGX de ter superestimado projetos e ofuscado fracassos ao longo de sua trajetória.

Começo equivocado

A OGX já nasceu ambiciosa ao arrematar blocos na 9ª rodada de petróleo, em 2007, com lances que superaram em 4.000 por cento os valores mínimos estabelecidos para as concessões pela Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP). Foi a primeira vez na história dos leilões que uma companhia superou a estatal Petrobras, tanto em valor desembolsado pelas concessões quanto em arremates de áreas de elevado potencial.

Por trás do desembolso de US$ 1,4 bilhão  estavam investidores que apostavam no pré-sal brasileiro, segundo duas fontes com conhecimento direto do assunto, entre elas uma que acompanhou as negociações das empresas para aquele leilão. A OGX conseguiu capital de fundos de pensão para investir no leilão que prometia ofertar blocos de muito potencial, praticamente sem risco exploratório, as chamadas áreas do pré-sal, disseram as fontes.

O grande problema, que atrapalhou não somente os planos da OGX como os de outras grandes petroleiras, foi a retirada de blocos do pré-sal do leilão às vésperas do certame, determinada pelo governo brasileiro. A descoberta pela Petrobras de reservas gigantes na região do pré-sal da Bacia de Santos levou o governo a repensar a oferta de áreas tão boas para a iniciativa privada no regime de concessão, levando à retirada dos blocos dias antes do leilão.

&amp;lt;a data-cke-saved-href="http://economia.terra.com.br/infograficos/maior-navio-ja-construido/" href="http://economia.terra.com.br/infograficos/maior-navio-ja-construido/"&amp;gt;Prelude o maior navio do mundo para produzir G&aacute;s Natural Liquefeito &amp;lt;/a&amp;gt;

O fato pegou várias empresas de surpresa, entre elas a OGX. "Ele (Eike) tinha o compromisso de investir nos blocos do leilão, mas os blocos que realmente justificavam aqueles investimentos foram retirados", afirmou uma das fontes, sob condição de anonimato. Eike chegou a comunicar antes do leilão o problema para seus investidores, que concordaram em manter a aposta no petróleo brasileiro mesmo com a retirada das áreas do pré-sal, disse outra fonte com conhecimento direto do tema, pedindo para não ser identificada.

A conclusão foi o cancelamento de alguns consórcios formados para disputar blocos que foram retirados e uma OGX triunfante num leilão que, na avaliação de especialistas, não foi tão positivo para a iniciativa privada quanto se pensava inicialmente. O objetivo da OGX era nascer grande e continuar crescendo em áreas exploratórias a partir de novos leilões, o que não foi possível porque o governo interrompeu as rodadas por vários anos. Com as descobertas do pré-sal, o governo decidiu criar normas novas para licitar tais áreas, que resultaram no modelo de partilha.

"A OGX foi muito prejudicada com tanta espera, porque não teve como ampliar seu portfólio e ficou reduzida a um tamanho pequeno, sem muitas opções do ponto de vista exploratório, ficou muito limitada", afirmou o especialista do setor de petróleo Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrura (CBIE).

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