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Operações Cambiais

Saldo cambial negativo brasileiro valoriza dólar

19 dez 2013 - 07h17
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Segundo dados do Banco Central, após passar por períodos de saldo positivo no final de novembro, o fluxo cambial brasileiro fechou o saldo financeiro do mês negativo em US$ 141 milhões (até 29 de novembro). O saldo cambial comercial fechou positivo em US$ 290 milhões. No período de janeiro a novembro, o fluxo financeiro ficou negativo em US$ 16,4 bilhões, ou seja saíram mais dólares do País do que entraram. Já o fluxo de dólares comercial estava positivo em US$ 13 bilhões no mesmo período. O saldo total, envolvendo os dois tipos de fluxo, fechou em US$ 3,4 bilhões negativos. 

O fluxo cambial comercial consiste nas operações de câmbio das importações e exportações de bens ou de serviços. Já o financeiro envolve investimentos de capital de portfólio, em títulos públicos ou da bolsa de valores, remessas de lucros e dividendos ao exterior e investimentos estrangeiros diretos, destinados a iniciativas produtivas, como uma fábrica nova de uma multinacional que passa a trazer capital estrangeiro para o País para produzir, por exemplo. A principal diferença entre os dois tipos é que contas de capitais são movidas a cliques de mouse no mundo todo, provocando rápidas oscilações na taxa de câmbio. Já nos movimentos da balança comercial, a taxa de câmbio é que impacta a balança e o tempo de ajuste das contas é maior, podendo levar períodos de até um ano, segundo o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Robson Gonçalves.

Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Mauro Rochlin, o fluxo comercial não coincide com as transações de pagamentos, o que pode ser uma das explicações do movimento de câmbio comercial estar positivo e o financeiro, negativo. “Muitas vezes os embarques de mercadorias e as prestações de serviços ocorrem em datas diferentes de seus pagamentos”, diz.

Em relação aos investimentos estrangeiros diretos, que fazem parte do fluxo cambial financeiro negativo, Rochlin diz que o Brasil ainda é um grande receptor, apesar de o fluxo ter se estabilizado. “A quantidade desses investimentos vinha avançando em 2013 comparado a 2012, mas o ritmo deixou de ser crescente. Uma das hipóteses para explicar a diminuição é que existe uma insegurança regulatória na economia brasileira, que serve para desestimular a entrada do capital estrangeiro, além de questões macroeconômicas, como a inconsistência da política fiscal”, explica. 

O afrouxamento monetário nos Estados Unidos pode também explicar o menor fluxo de entrada de dólares no País. Rochlin explica que um investidor americano que queira investir no Brasil, vai segurar seus investimentos, pois a taxa de juros americana tende a subir. “Quanto mais suave o afrouxamento monetário for conduzido, menos afetada será a economia brasileira”, conclui. A consequência imediata e direta de um movimento cambial negativo apontada pelo especialista é uma maior pressão sobre a moeda americana, que nos últimos 10 meses aumentou cerca de 15%. 

Gonçalves acredita que os números positivos do fluxo comercial mascaram os problemas que a balança comercial brasileira vem apresentando, com crescimento das importações apesar da alta da taxa de câmbio. Já as exportações, por conta dos efeitos da crise mundial que ainda estão presentes, da má evolução das economias europeias e do menor crescimento da China, diminuíram. “Se analisarmos a tendência registrada nos meses mais recentes nos dados de balanço de pagamentos, observaremos uma tendência a iniciar o ano de 2014 com déficit”. A indústria brasileira não consegue aumentar sua produção física e nem o valor agregado ao trabalhador. “O País em que a indústria encontra dificuldades para ser produtiva, se torna importador, contribuindo para uma situação de escassez de dólares”, informa.

Para resolver o problema da menor quantidade de moeda americana no Brasil, Gonçalves acredita que é necessário consertar o déficit da balança comercial, observado em US$ 1,8 bilhões de janeiro a outubro deste ano, em dados do Banco Central. “Não vejo como isso poderia acontecer sem o dólar voltar para a faixa de R$ 2,40. Seria negativo para o consumidor, que pagaria mais pelos produtos importados, mas positivo para o desenvolvimento do País a longo prazo, pois facilitaria o aumento da produtividade e competitividade da economia brasileira”, conclui.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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