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Pessoa Fisica

Dólar alto pode tirar Brasil da rota de shows internacionais

15 mar 2013 - 15h42
(atualizado às 15h42)
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Dias e noites em filas para garantir o melhor lugar do campo, dezenas de milhares de pessoas em êxtase, músicas cantadas em um inglês qualquer - do embromation ao expert -, suor e lágrimas por alguém que jamais pareceu possível ver ao vivo tão de perto. Essa cena, que desde 2010 se tornou mais comum no Brasil, pode não voltar para o bis neste ano. Há uma grande vilã que ronda as cabeças e os bolsos dos produtores musicais, e o nome dela é oscilação cambial. "Mais que o dólar em alta, a instabilidade da moeda nos prejudica muito. Tive prejuízo de 30% em shows que fechei para julho no início do ano", afirma Vitor Lucas, proprietário da Beco 203 Produtora.

O hoje já aposentado LCD Soundsystem foi outro dos shows nos quais Paola trabalhou com a produção
O hoje já aposentado LCD Soundsystem foi outro dos shows nos quais Paola trabalhou com a produção
Foto: LCD Soundsystem: No Mondays

Um artista que antes era negociado a US$ 15 mil e, com o dólar a R$ 1,7, gerava um custo de R$ 25.500, com o dólar acima dos R$ 2, pode subir esse preço em mais de R$ 5 mil. E o aumento do custo dos cachês em valor real não é o único problema enfrentado pelos produtores. A desaceleração da economia no Brasil também joga água num negócio que esteve em franco crescimento nos últimos dois anos. "A quantidade de shows continua até bem forte, mais que no ano passado, mas a economia é super nítido que pegou todo mundo. Até o começo deste ano, os ingressos vendiam mais rápido. Agora, está bem mais difícil, vende mais devagar, vende menos. A expectativa de shows que lotariam, agora, é de metade (de vendas) só",  diz Paola Wescher, promotora e agente de shows internacionais há mais de 10 anos.

Paola conta ainda que a alta do dólar afetou os custos de se trazer uma banda internacional como um todo, desde as passagens, passando por equipamentos e impostos e chegando ao cachê. Isso refletiu no preço dos ingressos, segundo ela, fazendo com que custem entre R$ 10 e R$ 20 a mais, em média. Ela, que trabalha em entre 15 e 20 shows internacionais por ano, acredita que a tendência para 2013 é de frenagem grande na vinda de atrações de outros países. "Acho que esse aquecimento no entretenimento não se sustenta para além de fevereiro ou março do ano que vem. As pessoas vão começar a perder muito dinheiro", diz.

Com esse movimento em mente, o proprietário da Beco 203 Produtora diz que está segurando as atividades até a moeda se estabilizar. "Começou a ficar inviável, porque o artista não sente essa alta que a gente tem, não dá bola e isso acaba prejudicando bastante. Somado isso à meia-entrada, não temos opção, temos que aumentar o valor do ingresso para poder cobrir (os custos)", afirma o empresário.

O aluguel de equipamentos também está encarecendo desde que o dólar subiu. Vitor Lucas explica que, como os fornecedores daqui cobram muito caro, é preciso contratar o serviço do exterior, o que deixa os produtores mais ainda na mão da oscilação cambial. Para se proteger desse vilão do business de entretenimento, ter elasticidade nas datas de pagamento pode ser uma saída. Paola conta que tem um agente de câmbio com quem costuma trabalhar que é de confiança e a avisa sobre possíveis movimentações no preço do dólar que possam fazer diferença na sua planilha de custos depois.

A torcida dos fãs do setor é que, agora, tem de jogar contra a economia mundial. Paola diz que, por conta da crise, Europa e Estados Unidos têm gerado menos volume de negócios para os artistas, que acabam tendo mais datas disponíveis e condições de virem ao Brasil. Enquanto essa desaceleração global continuar, portanto, ainda é possível sonhar com um lugar na primeira fila, bem pertinho do artista preferido, sem precisar sair do País.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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