Arte nacional busca novos investidores, dizem especialistas
Há cerca de 20 anos, a advogada Maria Inês Kibrit e seu marido, Salo Kibrit, ambos de São Paulo, descobriram um novo mundo em um leilão. Não eram vendidas joias ou móveis de valor, mas obras de artistas nacionalmente reconhecidos. A partir da primeira compra, o casal iniciou uma coleção de pinturas modernistas. Mesmo se baseando muito no próprio gosto, Maria Inês afirma que, para investir neste mercado, é importante estudar o traço de cada artista.
Não há segredo para se inserir no negócio, mas o interessado precisa criar uma bagagem de conhecimento antes de começar a investir pesado. "Só estudando a obra do artista e a sua melhor fase, sabendo o que está valorizado no mercado, essa é a única forma de fazer um bom negócio. A pessoa tem de saber, por exemplo, que um Di Cavalcanti da década de 1920 é diferente de um da década de 1960", ressalta Maria Inês.
Para os iniciantes, aconselha frequentar leilões e galerias com seriedade reconhecida e que trabalhem com o tipo de arte pela qual a pessoa se interessa. Depois de conversas com galeiristas e muitas visitas a exposições, Maria Inês afirma que o olhar começa a ficar mais apurado e que encontrar a obra perfeita para um bom investimento fica mais fácil.
Para o consultor do mercado autoral, de entretenimento e de arte João Carlos Lopes dos Santos, antes de fazer um lance em uma obra é preciso ter um conhecimento bastante amplo. Ele compara a negociação com a compra de um imóvel, em que as pessoas consultam profissionais e pessoas de confiança para fazer a melhor escolha. O esquema é o mesmo para adquirir uma obra de arte.
"A pessoa precisa conhecer um pouco do mercado. Eu aconselharia a frequentar o mercado antes de comprar. Conversar com pessoas, ir a leilões. De seis meses a um ano, ela já fica iniciada e pode começar comprando o que está dentro das suas possibilidades financeiras", acredita Santos. Ele afirma que, às vezes, começar por leilões é a melhor opção, mas tudo depende de como o cliente se sente mais a vontade para adquirir a pintura ou a escultura.
De acordo com a assistente dos galeiristas da Galeria Almeida e Dale, de São Paulo, Mônica Tachotte, uma pré-interação com a arte pode ajudar o futuro investidor. "Para quem quer começar, o primeiro passo é acompanhar as exposições, se inteirar do circuito das artes, frequentar os leilões e as galerias. A partir daí, a pessoa consegue ter um repertório de peças que interessam a ela e de sua valorização dentro do mercado", afirma Mônica.
Momento para novos artistas
Na percepção da assistente dos galeiristas, o futuro tanto para os artistas nacionais quanto para o mercado brasileiro de arte parece próspero. Com a economia aquecida, espera-se que as pessoas venham a investir mais nessa área. "A cada ano que passa, vem crescendo o número de colecionadores e também de políticas públicas para as artes. Feiras no Brasil, como a SP Arte e a ArtRio, consolidam esta perspectiva", analisa Mônica.
Além disso, Mônica afirma que o mercado de arte do País está fazendo uma via de mão dupla. "Os artistas nacionais são representados por galerias estrangeiras, e artistas estrangeiros são representados por galeria brasileiras", diz a assistente dos galeiristas da Almeida e Dale.
"Nós temos artistas vivos com obras no patamar de até R$ 500 mil, alguns já bateram R$ 1 milhão nos leilões internacionais", afirma o consultor João Carlos Lopes dos Santos. Mas a crise financeira prejudicou a venda de obras no exterior, e Santos acredita que está na hora de esses artistas novos receberem mais reconhecimento no Brasil. "Eles estão com preços muito convidativos, e o mercado deve começar a olhar mais para eles."