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Operações Empresariais

Moeda virtual, cada Bitcoin chega a valer R$ 268 em negócios

3 jun 2013 - 07h08
(atualizado às 07h24)
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"Mãe, o que é dinheiro?", pergunta o filho pequeno. "Dinheiro era o que usávamos para comprar as coisas, filho", responde a mulher. Este diálogo pode parecer sem pé nem cabeça, mas é bem provável que no futuro seja algo cada vez mais frequente nas dúvidas corriqueiras das crianças. E isso graças a iniciativas como o Bitcoin.

O dinheiro, como conhecemos, não vai acabar tão cedo, afirma o economista do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, Pedro Rossi. Porém uma nova tecnologia vem dando o que falar em todo o globo. Criado em 2009 pelo desenvolvedor conhecido pelo pseudônimo de Satoshi Nakamoto, o Bitcoin (ou "moeda de bit", em tradução livre do inglês) é uma moeda digital criptográfica que utiliza a tecnologia P2P (peer to peer, que significa par a par, um formato de rede de computadores onde cada usuário conectado realiza funções de servidor e cliente ao mesmo tempo). Por esta particularidade, a moeda digital não precisa de nenhum banco ou entidade regulatória para existir.

O Brasil já comercializou mais de 40 mil Bitcoins desde julho de 2011, quando a tecnologia desembarcou nos computadores por aqui. "É uma moeda muito sensível, seu valor varia em todo o mundo graças à oferta e à procura. Agora mesmo, um Bitcoin está valendo no País R$ 268", diz Leandro César, criador do site Mercado Bitcoin.

No mundo todo, cerca de 11 milhões de bitcoin estão em circulação, o que totaliza cerca de US$ 1,3 bilhão na rede. "A rede pretende criar, até 2030, novos Bitcoins, chegando em um teto de 21 milhões. E eles são criados justamente para remunerar quem está mantendo a rede", afirma o bancário e entusiasta da tecnologia Rodrigo Trindade Batista.

A variação do Bitcoin é extremamente imprevisível. Em 2011, quando ela chegou ao País, seu preço unitário girava em torno de R$ 24. Sua cotação tem bastante flutuação, como aponta o gerente de projetos e criador da página Bitcoin Brasil no Facebook, Leandro Goulart Bernardo. "O valor de unidade está por volta de US$ 125. Para os que investiram na moeda no começo desse ano, houve um ganho por volta de 625%. No entanto, é um investimento de risco, se encarar dessa forma", afirma.

E este risco existe. O economista Pedro Rossi afirma que este tipo de autonomia nunca seria permitido no mundo em que vivemos hoje. Uma moeda digital com flutuação própria é difícil de se manter, pois variar muito faz perder a referência de valor. "Ela é baseada na confiança dos usuários da rede. A partir do momento que essa confiança se vai, a moeda não vale mais nada. Ela é uma quase-moeda", diz.

Digital e descentralizada

O Bitcoin é uma moeda totalmente digital e descentralizada. Não é preciso tê-la com você ou utilizar cartões como os de crédito ou débito para utilizá-la. Tudo fica na internet, compartilhado entre milhares de computadores que armazenam os dados de transações. A partir disto o Bitcoin já pode ser usado para compras e transações monetárias, bastando apenas ter uma “carteira virtual”, que é um aplicativo que permite “navegar” pela rede Bitcoin e dá acesso à uma conta particular. Há também aplicativos, inclusive para tablets e smartphones.

Para que a moeda tenha valor, são utilizados programas de computadores que fazem o papel de “mineração”. Estes programas utilizam a capacidade de processamento do computador para “garimpar” riquezas, tal qual a extração de ouro. Por isso, é utilizada a rede P2P, para criptografar as informações, evitando o desvio de dinheiro, duplicação de moeda, exclusão espontânea ou qualquer outro fato que não garanta segurança.

Para garimpar Bitcoins, porém, é preciso desembolsar dinheiro. A mineração só é efetiva com computadores de alto desempenho e que são feitos especificamente para este uso. “Computadores comuns, ainda que realmente potentes, não terão bons resultados em tentar minerar. É preciso ter máquinas apropriadas. Por isso é melhor não achar que é garantia de dinheiro fácil”, alerta Bernardo.

Mas é uma moeda?

Com apenas quatro anos de existência, o Bitcoin não é uma moeda propriamente dita. Rossi diz que uma moeda financeira é algo bem mais complicado, a base do sistema em que vivemos atualmente. “Você dizer que vai ter uma moeda que não será controlada por um banco central, mas sim por um grupo de pessoas? Isto não vai se criar, pelo fato de que o Bitcoin não possui as potencialidades de uma moeda convencional”.

Porém, esta realidade pode estar com seus dias contados, mas não tão rápido quanto se imagina. Mesmo que vários locais comerciais ao redor do mundo o utilizem como moeda de troca (serviços de hospedagem, bares, restaurantes, biblioteca etc.), ele ainda não alcançou completamente seu objetivo. Para Goulart o sucesso da tecnologia depende principalmente de sua aceitação pelo mercado. “O Brasil está extremamente atrasado nesse aspecto, provavelmente por conta de uma posição conservadora dos empresários ou por simples desconhecimento sobre a moeda”.

Em São Paulo, na Vila Madalena, o bar e bicicletaria Las Magrelas resolveu aderir aos Bitcoins. Há pouco mais de um mês, a empresa colocou a opção para os seus clientes de pagamento com a moeda digital. “Temos uma carteira aberta, e a opção está lá para quem quiser utilizar. Temos amigos que trabalham com programação, e eles nos deram a ideia. Nossa próxima ação será colocar indicadores e placas avisando que aceitamos Bitcoin”, diz a sócia-proprietária, Talita Noguchi.

Por ser uma moeda atualmente livre de intervenções estatais, seu valor é baseado na oferta e na demanda. Hoje, o interesse por Bitcoins está crescendo, e como a oferta é limitada pela mineração, o seu valor tende a crescer. “Como qualquer pessoa pode comprar e vender a qualquer momento e a demanda hoje ainda é muito variável, seu valor oscila mais que moedas tradicionais, o que dificulta a aderência ao comércio. Mas a moeda está em crescimento e a tendência e de que se estabilize com o tempo”, prevê Goulart.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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