Brasil tende a virar um País importador, afirma especialista
Após três meses consecutivos marcando saldos negativos, o fluxo cambial no País voltou a ficar positivo em abril. Segundo dados parciais do Banco Central, até o dia 22, a entrada de dólares no Brasil supera a saída em US$ 1,110 bilhão no mês passado devido ao desempenho sustentado pelas operações comerciais. Porém, apesar de positivo, os números estão longe de sinalizar uma recuperação.
As operações financeiras responderam por uma saída líquida de US$ 3,326 bilhões, diferença entre entradas de US$ 24,190 bilhões e saídas de US$ 27,516 bilhões. No comércio exterior, por outro lado, o saldo está positivo em US$ 4,436 bilhões, com importações de US$ 12,687 bilhões e exportações de US$ 17,123 bilhões.
Segundo o professor de finanças da ESPM Adriano Gomes, a situação é um sinal amarelo. “Não é uma situação alarmante para que a gente se desespere, mas tampouco está longe de sinalizar a cor verde. O sinal amarelo é um bom indicador para que medidas sejam tomadas e pensadas”, afirma. Ele se refere a iniciativas públicas.
O fluxo cambial reflete a soma das operações da balança comercial, das operações financeiras e das operações com instituições financeiras no exterior e, por isto, depende da estrutura econômica do País. Para Gomes, duas mudanças estão em curso. A primeira é o aumento gradativo das importações enquanto as exportações tendem a permanecer no atual patamar ou podem subir em valores de reais, dependendo da oscilação das principais commodities. “O Brasil tem tendência a virar um país importador”, analisa.
Já a segunda é a saída de dólares pelas empresas daqui na forma de remessa de lucro ao exterior - no caso, de organizações cuja matriz fica em um país europeu. “O cenário lá fora, sobretudo na Europa, parece que vai demorar a estabilizar. Este é mais um elemento que afeta o fluxo cambial. Os outros são viagens e gastos de brasileiros no exterior. Mas tudo é mais constante, deve permanecer neste mesmo patamar”, aponta o professor.
Restrições ao investimento estrangeiro
Com as remessas de lucros e dividendos ao exterior, o que calibra este fluxo financeiro, junto com as exportações, são os investimentos estrangeiros diretos. De acordo com Gomes, a entrada de dólares no Brasil, por meio de investimentos, deve continuar, porém não no volume, nem no ritmo de crescimento necessário para cobrir o déficit para o fluxo cambial. “No prazo de um ou dois anos, deve-se fazer com que esse fluxo permaneça com tendência de queda, forçando uma alta do dólar”, prevê.
Nem o aumento da exportação com a safra recorde deste ano vai aliviar o fluxo, pois o Brasil também tem importado muito. Além disso, o cenário para investimento estrangeiro aqui segue envolto de incerteza, derivada especialmente da confusa condução da política econômica, em mais um desestímulo à entrada de capital.
Para o especialista em finanças, o Brasil ainda coloca muitas restrições ao investimento. “É uma dificuldade tremenda investir aqui. O governo precisa tomar medidas atrativas, para incentivar a formação de novas indústrias e até mesmo para investimentos financeiros, em vez de tomar medidas afugentando o investimento de capital externo”, assegura.