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Operações Empresariais

Brasil importa 50 vezes mais trigo dos Estados Unidos

22 ago 2013 - 07h35
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Que o ganha-pão dos brasileiros não está na plantação de trigo, todo mundo já sabe. Mas para ter o grão no supermercado, o Brasil vem gastando cada vez mais - e está quase no prejuízo. De julho de 2012 a julho de 2013, as importações de trigo do Brasil somaram 7 milhões de toneladas, o maior volume dos últimos seis anos, e os gastos aumentaram 41%, somando US$ 2,26 bilhões. Com a escassez do grão na Argentina, o maior fornecedor do Brasil tornou-se os Estados Unidos. De um somatório de problemas, sobrou para o bolso do consumidor. 

De acordo com o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika, o volume importado aumentou em função da escassez de produção devido às geadas no Paraná e no Rio Grande do Sul, estados onde a produção de trigo nacional está concentrada. 

Já o gasto crescente é decorrência da alta do dólar, de uma elevação mundial do mercado de trigo e, principalmente, de uma paralisação do nosso grande exportador: a Argentina. O país está enfrentando uma escassez do grão que suspendeu as exportações e motivou o governo Kirchner a adotar controles de preços internos antes das eleições. Em janeiro de 2013, o Brasil importou 481 mil toneladas de grãos do país, enquanto em julho chegou apenas a 53 mil, o que representa uma queda de 89%. 

O Brasil, principal comprador da Argentina, está pagando a conta, obrigado a importar o grão no Canadá e nos Estados Unidos, cujo preço é mais elevado. Durante o primeiro semestre, o volume de trigo importado dos Estados Unidos aumentou 50 vezes, passando de 10 mil toneladas para 555 mil toneladas. "O consumidor já sentiu a alta do preço do pão", diz Vosnika. 

Mercado interno

Apesar de exportar trigo para países como Israel, Coreia do Sul e Alemanha, produzir trigo para o consumo interno no Brasil não compensa financeiramente, segundo alguns especialistas. O custo de transporte do sul do País para o norte impede que o grão atinja um preço competitivo, e o clima também prejudica a produção de grãos de qualidade. "Temos solo suficiente e viabilidade agronômica, mas não temos viabilidade econômica. Para o nordeste e o sudeste, é mais barato trazer trigo da Argentina do que do sul do País", diz o analista de mercado Élcio Amarildo Bento, da Safras e Mercado Consultoria. Em 2013, o Brasil recebeu US$ 319.846 exportando trigo, e gastou US$ 1.395.885 com as importações.

Para o presidente da Comissão do Trigo da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, o Rio Grande do Sul e o Paraná, juntos, têm condições de abastecer boa parte do País - e assim reduzir os preços do pão -, desde que haja incentivo do governo. "O ideal seria que o Brasil fosse responsável por, no mínimo, 80% do consumo nacional. Temos produtores competentes e com domínio das tecnologias", defende Jardim. A revolução no setor dependeria de mecanismos de proteção às anormalidades climáticas, como os seguros agrícolas. 

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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