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No México, Dilma buscará alianças para reavivar economia

25 mai 2015 - 06h59
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João Fellet - @joaofellet

Foto: BBC Mundo / Copyright

Enviado especial da BBC Brasil à Cidade do México

Enfrentando uma recessão e uma crise com o Congresso, a presidente Dilma Rousseff viaja nesta semana ao México em busca de parcerias para reavivar a economia nacional.

Segundo diplomatas, Dilma pretende ampliar as exportações de produtos brasileiros para a segunda maior economia latino-americana e atrair mais investimentos mexicanos ao Brasil.

A visita ocorre durante uma rara maratona diplomática da presidente: na semana passada, ela recebeu em Brasília líderes da China e do Uruguai, e no fim de junho viajará aos Estados Unidos para se reunir com o presidente Barack Obama.

A presidente chega à Cidade do México nesta segunda à noite e volta ao Brasil na quarta. Será a primeira visita de Estado - modalidade mais formal no linguajar diplomático - de um líder brasileiro ao México desde 2007, embora nesse intervalo Dilma e o ex-presidente Lula tenham viajado ao país para encontros multilaterais.

A viagem será ainda uma retribuição à visita do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, ao Brasil após sua eleição, em 2012.

Onipresença mexicana

Embora jamais tenham sido aliados muito próximos e nutram certa rivalidade regional, Brasil e México vêm se acercando nos últimos anos, num movimento liderado por empresários dos dois lados.

Segundo o governo brasileiro, o México é hoje o quarto maior investidor do Brasil, atrás da União Europeia, Estados Unidos e Japão. Empresas mexicanas já injetaram US$ 23 bilhões (R$ 71 bilhões) na economia brasileira.

O embaixador do Brasil no México, Marcos Raposo Lopes, diz que os brasileiros ignoram estar cercados por produtos de empresas mexicanas em seu cotidiano.

Ele lembra que a mexicana Mabe é dona das marcas de eletrodomésticos Bosch, Dako, Continental e GE. A Bimbo, gigante mexicana do setor alimentício, comercializa o pão Pullmann, e a Coca-Cola vendida no Brasil é engarrafada pela mexicana Femsa.

Também são mexicanas a fabricante de canos Amanco, as telefônicas Claro e Embratel (gerida pela América Móvil) e a rede de cinema Cinépolis.

Apesar disso, diz o embaixador, "pergunte a um brasileiro se ele já teve contato com algum produto mexicano e ele provavelmente dirá que não."

"Brasileiros e mexicanos sabem muito pouco sobre o país do outro, e os estereótipos ainda predominam dos dois lados."

Exportações na mira

Já os investimentos brasileiros no México são mais tímidos e somam US$ 2 bilhões (R$ 6 bilhões), embora estejam aumentando.

A brasileira Braskem está construindo com a mexicana Idesa um polo petroquímico no Estado de Veracruz, e a Gerdau ergue um complexo siderúrgico em Hidalgo. Os dois investimentos totalizam US$ 5,6 bilhões (R$ 17 bilhões).

Em sua visita, Dilma deve assinar com o presidente Peña Nieto um acordo para facilitar investimentos entre os dois países. Será a terceira vez que o Brasil firma um acordo desse tipo (os países já contemplados são Angola e Moçambique).

Outra prioridade de Dilma, diz o embaixador Marcos Raposo Lopes, será ampliar as exportações brasileiras para o México.

Segundo o governo, o comércio entre os dois países dobrou nos últimos dez anos e o México é hoje o décimo primeiro maior importador de produtos brasileiros.

Carros e autopeças respondem por metade das transações, que somaram US$ 9 bilhões (R$ 28 bilhões) em 2014. O México tem saldo favorável de US$ 1,6 bilhão (R$ 4,9 bilhões) na relação.

Dilma tentará reduzir barreiras a produtos brasileiros em outras áreas. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), 80% dos setores industriais brasileiros defendem diminuir as tarifas comerciais entre os dois países. A organização cobra o governo a avançar nas negociações rumo a um acordo de livre comércio com o México.

O acerto dependeria de um aval dos demais sócios do Brasil no Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela). O bloco já se comprometeu a negociar um acordo comercial amplo com o México no futuro.

'Alguns passos à frente'

Para João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria Eurasia Group, em Washington, as dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil têm forçado Dilma - tida como mais avessa à diplomacia que seus antecessores - a buscar parcerias no exterior para aliviar a situação.

"Normalmente, líderes de países com problemas domésticos recorrem à política externa, onde têm mais liberdade para atuar."

Nesse cenário, diz Neves, o México é atraente por viver um momento econômico mais favorável que muitos países latino-americanos que têm a China como maior parceiro comercial.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que o país crescerá 3% neste ano. O ritmo é inferior ao que registrou no início da década, mas lhe deixa à frente de Brasil (-1%), Argentina (-0,3%) e Venezuela (-7%), que sofrem com a desaceleração da economia chinesa.

O México, por sua vez, tem se beneficiado da recuperação dos Estados Unidos, de longe seu principal parceiro comercial e investidor.

Por vender poucas matérias-primas à China, Neves diz que o México não viveu a bonança que muitos países latino-americanos tiveram na última década. Para crescer mais, diz ele, o país teve que optar por um caminho alternativo, abrindo-se ao comércio e promovendo reformas estruturais para se tornar mais competitivo.

O país liderou as negociações para a criação da Aliança do Pacífico, bloco criado em 2012 que une quatro nações latino-americanas, e hoje mantém acordos de livre comércio com 45 países.

Essas ações, diz ele, deixaram o México "alguns passos à frente" de outros países vizinhos - entre os quais o Brasil - que, diante da desaceleração chinesa, "se veem agora pressionadas a promover reformas liberalizantes".

"É interessante para o Brasil olhar para o México, ver que estão melhores do que nós e aprender com sua trajetória."

Políticas proibicionistas

Se no campo econômico os dois países vêm se aproximando, politicamente ainda há uma grande distância entre ambos, diz Paulo José dos Reis Pereira, professor de relações internacionais da PUC-SP.

Segundo Pereira, por uma "necessidade de sobrevivência", o México sempre se voltou aos Estados Unidos, o que relegou os vizinhos ao sul ao segundo plano.

Há ainda divergências pontuais entre os dois países. O México se opõe ao pleito do Brasil por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, uma das maiores ambições da política externa nacional. E num sinal de certo distanciamento, o Brasil apoiou a candidatura vitoriosa da francesa Christine Lagarde na última eleição à direção do FMI, embora o mexicano Agustín Carstens estivesse na disputa.

Para Pereira, porém, há espaço e razões para que os dois países também se aproximem politicamente.

Ele diz que tanto Brasil quanto México sofrem os efeitos de suas políticas para as drogas, que enfocaram a proibição e a repressão ao tráfico mas não puseram fim à violência.

Segundo o professor, o México "tem acenado com a possibilidade" de repensar essas políticas, consolidadas por uma convenção da ONU da década de 1960. No ano que vem, a Assembleia Geral das Nações Unidas discutirá o tema numa sessão especial.

Ele diz que, hoje, a cooperação entre Brasil e México nesse campo é "praticamente inexistente" fora de fóruns multilaterais, mas que "os dois países poderiam ter um protagonismo na proposição de novas políticas de regulação das drogas".

"É um caminho possível e, mais do que isso, desejável."

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