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Déficit da Previdência iguala Brasil à Grécia, diz ministro

29 out 2015 - 19h27
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes disse hoje (29) que o déficit da Previdência deve chegar a R$ 194,9 bilhões em 2016. Neste ano, o valor estimado da dívida é de R$ 157,3 bilhões. Até 2012, o valor não passava de R$ 95,2 bilhões.

"O Brasil está em situação gravíssima, semelhante à Grécia e, em curtíssimo espaço de tempo, a Portugal, que cortou os salários dos funcionários em 50%", disse, durante palestra a estudantes do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), no Rio de Janeiro. Os dados sobre a Previdência foram apresentados ontem (28) por Nardes em plenário do TCU. 

Segundo Nardes, a perda de postos de trabalho, e, consequentemente, de contribuintes da Previdência, reflexo da crise econômica, pode acentuar o déficit e prejudicar quem está ou quem entra no mercado de trabalho. Ele recomendou aos jovens, a quem chamou de privilegiados, por estarem em uma universidade, que façam uma caixinha para aposentadoria.

Cortes

Em geral, para evitar uma “situação de caos” na Previdência, o ministro defendeu propostas consideradas polêmicas, como igualdade na contribuição entre homens e mulheres – que se aposentam mais cedo, com a justificativa da carga extra de trabalho doméstico – além do aumento da contribuição para 75 anos, esta última, vetada pela presidenta Dilma Rousseff na semana passada.

“O veto tem que ser discutido imediatamente". Uma demora em resolver o déficit, acrescentou o ministro do TCU, “significará um remédio mais amargo” à população.

Outra proposta do ministro passa por mudanças no Programa Bolsa Família. Para o ministro, o programa, do governo federal, apenas “dá o peixe” para as famílias de baixa renda. “Se não mudarmos o Bolsa Família, a pirâmide de contribuição do setor formal para a Previdência não acontecerá, porque as pessoas não querem trabalhar ou não estão incentivadas”, disse.

O aumento progressivo de impostos, como a retomada da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), não resolve os problemas econômicos, segundo Nardes. Para o ministro, a medida dificulta os investimentos no setor produtivo. Ele defendeu cortes "mais incisivos” na estrutura do governo, no curto e médio prazo, além da reforma da Previdência.

Governança

O ministro também afirmou que o país sofre com problemas de governança e citou o caso da Petrobras. “A empresa valia R$ 450 bilhões e hoje vale R$ 150 bilhões. Sem boa governança, acabou dando no que aconteceu." A empresa é alvo de investigação da Polícia Federal, na Operação Lava Jato, por causa de irregularidades e pagamento de propina em contratos firmados com empreiteiras e construtoras.

Foram equivocados, na visão de Nardes – que não comentou as variações no câmbio sobre os ativos da petrolífera – investimentos em projetos que depois foram cancelados, como refinarias no Maranhão e no Ceará, que chegaram a custar R$ 2,8 bilhões.

Operação Zelotes

O ministro negou que tenha envolvimento com empresa investigada na Operação Zelotes, que apura fraudes em processos e julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Hoje, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Carf aprovou requerimento para pedir acesso à cópia ao relatório enviado pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o suposto envolvimento do ministro em irregularidades investigadas pela Polícia Federal.

O ministro é tio de Juliano Nardes. Segundo as investigações, os dois foram sócios em uma das empresas investigadas pela operação. Dois ex-funcionários do escritório de advocacia de José Ricardo da Silva, ex-conselheiro do Carf, em acareação na comissão, disseram ter feito pagamentos em espécie a Juliano Nardes.

“Eu saí da empresa, na qual era acionista, em 2005, não tinha cargo de direção. Sobrinho é sobrinho", justificou.

O ministro ficou emocionado ao comentar mais uma vez a reprovação das contas do governo, e disse que sofreu pressões por cinco meses. Ele foi o relator das contas de 2014 do governo de Dilma Rousseff durante julgamento no TCU e recomendou a rejeição. “Foram meses muito difíceis”, disse, com a voz embargada. “Enfrentar o poder do governo, dos ministérios, propor a rejeição das contas, e mudar a história. Em 80 anos, aprovaram contas com ilegalidades, com ressalvas”.

Agência Brasil Agência Brasil
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