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Na Noruega, a riqueza está virando problema

Endividamento das famílias norueguesas é o maior da Europa; especialistas dizem que Estado enriquecido pelo petróleo acabou mimando cidadãos

10 jul 2015 - 11h17
(atualizado às 14h05)
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A riqueza na Noruega não é tão evidente quanto nas paisagens extravagantes de Beverly Hills ou Dubai, mas sinais de opulência podem ser notados por todas as partes. No centro da cidade de Oslo, as pessoas dirigem carros esportivos, o porto está cheio de belos barcos particulares, ter uma segunda casa nas montanhas ou na costa é algo relativamente comum.

Oslo, capital e maior cidade da Noruega
Oslo, capital e maior cidade da Noruega
Foto: Shutterstock

O dinheiro do país se deve principalmente ao fundo petrolífero nacional, hoje em 800 bilhões de euros, estabelecido por lei para apoiar a gestão de longo prazo sobre as receitas da commodity. Ele funciona, segundo o governo, como investimento nas gerações futuras – o país tem, por exemplo, a maior bolsa previdenciária do mundo.

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Para muitos, no entanto, o Estado acabou mimando os cidadãos. O endividamento pessoal é mais alto na Noruega do que em qualquer outro país da Europa. Em parte por problemas no mercado imobiliário, mas também pela incapacidade – ou falta de vontade – dos noruegueses de se planejarem financeiramente de forma adequada.

Entre a segurança e o comodismo

O economista Trond Bentestuen, do maior banco da Noruega, o DnB, acredita que a população se tornou simplesmente acomodada demais: o dinheiro fluindo para os cofres do Estado as fez acreditar que isso é suficiente para assegurar o seu futuro.

“Nós estamos entre os países mais ricos do mundo, e eu acho que a riqueza nos tornou um pouco preguiçosos. Nós, noruegueses, precisamos aprender com outros países europeus. Eles fazem escolhas melhores, fazem orçamentos – então nós aqui no banco decidimos recrutar famílias de outros países para nos ajudar a ensinar nossas crianças a controlar as suas economias”, explica Bentestuen.

No início deste ano, Bentestuen liderou os esforços do seu banco para encontrar uma família polonesa para participar de um programa educacional de finanças pessoais direcionado a escolas primárias na Noruega. A moradora de Varsóvia Dorota Dziubalko, 40 anos, e sua família foram escolhidas para a campanha.

“Os noruegueses não pensam sobre seu futuro financeiro porque o Estado sempre cuidou deles. Não existe nada errado nisso, mas às vezes é bom se sentir no controle e completamente responsável por sua vida”, afirma Dorota.

Ela diz que os poloneses planejam geralmente muito melhor as suas finanças pessoais do que os noruegueses. Para Dorota, a longa história de recessão pode ter influenciado no comportamento polonês sobre a sua economia privada.

“O planejamento financeiro era uma necessidade, tornou-se algo normal nas nossas vidas. E graças a isso nós nos sentimos mais seguros. Eu acho que a coisa mais importante é fazer um orçamento mensal. Saber para onde o seu dinheiro está indo, perguntar a si mesmo se você realmente quer gastar tanto dinheiro”, sugere.

Os noruegueses talvez devessem ouvir os conselhos de Dorota Dziubalko. Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que 30% das famílias da Noruega estão perigosamente endividadas – a média europeia é de 9,5%.

A despreocupação jovem

Isso ainda não preocupa os jovens que aproveitam os cafés na orla moderna de Oslo. Três sorridentes estudantes admitem que “não poupam” nem fazem planejamentos financeiros ou orçamentos.

“Eu gasto todo o meu dinheiro quando saio no fim de semana”, explica uma das jovens. Sobre o futuro, uma admite: “Eu não penso sobre isso”. A outra amiga ri e acrescenta: “Quando eu tenho dinheiro, eu gasto. Estou sempre com a conta no vermelho no final do mês.”

O desemprego é baixo, em torno de 4%, e os salários são altos. Mas por que os jovens noruegueses – que vivem em um país com uma das maiores rendas per capita do mundo – sentem a necessidade de se endividar com cartões de crédito?

“Eu acho que, para os jovens, é um grande choque sair da casa dos pais”, afirma Ellen Nyhus, especialista em finanças da Universidade de Agder. “Porque eles vivem uma vida boa numa casa de classe média por tantos anos. Para muitos, é muito difícil ajustar seu consumo ao nível de renda bem menor – que é o que eles vão ter como jovens trabalhadores.”

A economia norueguesa ainda está nos trilhos, com crescimento estimado em 2% em 2015. O mercado imobiliário ainda está em expansão. Mas o país é altamente dependente do petróleo e do gás.

A queda acentuada do preço do petróleo afetou a indústria, e alguns especialistas já alertam para uma bolha especulativa do setor imobiliário que pode estourar a qualquer momento. A geração mais velha pode até dizer que ser prudente é tipicamente norueguês. Deveria ser a hora de ensinar isso também aos mais jovens.

“Esses jovens que não apreenderam o básico sobre finanças pessoais poderão não ser capazes de realizar os seus sonhos devido aos erros que cometeram quando mais novos”, alerta Bentestuen.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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