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Mercado automotivo do Brasil acende luz vermelha; entenda

Até 2017, as montadoras instaladas no País terão capacidade para montar 6 milhões de veículos ao ano no Brasil, apesar de as vendas locais poderem enfrentar dificuldades para ultrapassar a marca de 4 milhões de unidades

14 mar 2014 - 13h03
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O crescimento no mercado de veículos do Brasil entrou em ponto morto, mas é tarde demais para as montadoras pisarem no freio. Ao mesmo tempo que as vendas domésticas recuam e as exportações despencam, o setor está acrescentando mais de 1 milhão de veículos em nova capacidade em apenas alguns anos, o que deve impactar a lucratividade no quarto maior mercado automotivo do mundo.

Até 2017, as montadoras instaladas no País terão capacidade para montar 6 milhões de veículos ao ano no Brasil, apesar de as vendas locais poderem enfrentar dificuldades para ultrapassar a marca de 4 milhões de unidades, dizem analistas, que culpam uma política industrial de ajuda exagerada ao setor e euforia demasiada com mercados emergentes.

"Todos entraram na onda", disse o analista Guido Vildozo, da IHS Automotive, citando ambições exageradas no Brasil depois que as vendas cresceram 10% em média na década passada. As montadoras agora estão investindo cerca de US$ 5 bilhões por ano em linhas de montagem locais justo quando o mercado começa a diminuir.

Os lucros foram a primeira vítima do aperto futuro e as relações trabalhistas podem ser a próxima, com o espectro de demissões chegando mais próximo em um ano de eleição presidencial. Uma corrida para os mercados de exportação ressalta também o abismo competitivo que separa as indústrias no Brasil e no rival regional, o México.

As fábricas mexicanas têm custos trabalhistas menores, acesso fácil a fornecedores dos Estados Unidos e 43 acordos de livre comércio, segundo Vildozo da IHS. O Brasil tem apenas seis acordos bilaterais cobrindo o comércio de automóveis, incluindo quatro com vizinhos imediatos e a África do Sul. O comércio bilateral com o México vem sofrendo desde 2012, quando o Brasil impôs cotas bilaterais para interromper uma torrente de importações mexicanas.

"Será um processo doloroso, especialmente a negociação com os sindicatos, mas não esperamos que alguém feche as portas", disse Vildozo. Há muito foco da política industrial brasileira, as montadoras de veículos estão em uma situação difícil precisamente por causa das proteções com que contam.

A presidente Dilma Rousseff e os antecessores mantiveram as vendas de automóveis avançando com isenções de impostos, crédito barato e barreiras à importação, o que encorajou um conjunto de fábricas de automóveis não competitivas. O resultado é uma indústria lotada e ineficiente presa ao seu mercado doméstico, com poucas opções de exportação exceto a vizinha Argentina, que vive uma crise cambial.

As vendas e a produção no Brasil dobraram desde 2005 para cerca de 3,8 milhões de veículos no ano passado, no entanto, as exportações despencaram 40% para cerca de meio milhão de carros, caminhões e ônibus. Quando a situação estava boa, as montadoras aproveitaram largas margens de lucro sobre plataformas desatualizadas como a Kombi, da Volkswagen, um modelo de 56 anos que só saiu de produção no ano passado. Mas a festa acabou para as maiores marcas no País, depois de anos na dependência de dinheiro de unidades locais para compensarem um fraco crescimento global.

Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford viram os lucros despencarem em suas unidades brasileiras no último trimestre devido a uma queda na participação no mercado, custos maiores e uma moeda mais fraca. Preocupações se espalharam pela indústria no final de 2013 por causa das crescentes fileiras de carros novos parados nos pátios das fábricas. Analistas relataram que concessionárias estavam oferecendo descontos de até 35 por cento para reduzirem o estoque de modelos ultrapassados.

O mercado brasileiro pode estar na metade de uma queda de três anos, segundo Stephan Keese da consultoria automotiva Roland Berger no Brasil. Ele alertou que o excesso de novas fábricas em uma economia fraca podem levar a um excesso de capacidade de mais de 30 por cento nos próximos anos, cerca do dobro do excesso de capacidade normal da indústria.

Previsões róseas geradas nos anos de crescimento forte têm apenas parte da culpa, ele acrescentou, já que as políticas do governo forçaram muitas marcas a construir fábricas locais para evitar altos impostos sobre conteúdo importado. "O excesso de capacidade foi previsível pois não foi apoiado no mercado. Ele se deu em grande parte pela intervenção do governo", disse Keese.

A indústria afirma que emprega mais de 150 mil pessoas e é responsável por mais de um quinto da produção industrial do país. As montadoras anunciaram investimentos de cerca de US$ 35 bilhões entre 2012 e 2018, ajudando a elevar a fraca taxa de investimento da economia. Mas mesmo a associação de montadoras, Anfavea, reconhece que as vendas no Brasil não absorverão mais de três quartos da capacidade produtiva nacional em 2017, quando as fábricas poderão produzir até 6 milhões de veículos por ano.

"É um bom problema para se ter", disse Luiz Moan, presidente da Anfavea e alto executivo da GM, a jornalistas nesta semana. "Sabemos que precisamos ganhar competitividade para poderemos exportar pelo menos 1 milhão d e veículos em 2017." Para cumprir esta meta, a indústria terá que dobrar suas exportações em quatro anos, colocando o setor contra sua contraparte mais competitiva no México.

"Do ponto de vista das exportações, todos os ovos do Brasil estão em uma única cesta: a Argentina", disse Vildozo, da IHS. "E essa cesta rachou." A Argentina promoveu uma série de medidas para restringir importações e as exportações brasileiras começaram o ano com queda de 24%. Até recentemente, o país recebia até 9 de cada 10 carros exportados pelo Brasil.

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