Líderes mundiais criticam o protecionismo em Davos
A ameaça de uma volta ao protecionismo está em todas as bocas em Davos, denunciado em uníssono pelos dirigentes políticos que defendem o livre comércio sem nunca aplicá-lo ao pé da letra, como fizeram os americanos através de uma medida sobre o aço nacional - contestada e que faz parte do plano de reaquecimento econômico promovido por Barack Obama.
Tanto o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como o chinês, Wen Jiabao, ou o chanceler brasileiro, Celso Amorim, além do indiano do Comércio, Kamal Nath, todos tiveram palavras duras sobre as atitudes egoístas desse desvio.
"O protecionismo não serve a nenhuma causa e só pode piorar e prolongar a crise", afirmou Wen. "Não é nada bom para a economia mundial", disse Nath.
O brasileiro Celso Amorim declarou que se o mundo se deixava arrastar pelo "instinto protecionista" para enfrentar a crise, os países pobres se veriam particularmente golpeados.
"Na Rússia, não vamos recorrer ao isolacionismo e ao egoísmo", prometeu Putin no discurso de inauguração, lembrando os compromissos contra o protecionismo adotados pelas vinte maiores economias mundiais no G20 em novembro.
Esses líderes defendem a ideia de que proteger um mercado da concorrência mundial tem um efeito contraproducente a longo prazo. Em particular, em tempos de crise, como revelou a Grande Depressão dos anos 30, cuja gravidade é comprada ao tsunami atual.
Mas as declarações oficiais escondem uma realidade mais trivial a ser enfrentada pelos Estados: a necessidade de evitar a todo custo demissões e falências, socialmente insustentáveis. E por isso, as medidas de defesa de alguns setores constituem o recurso mais lógico.
Os EUA são bastante conscientes disso, mas estiveram no centro de uma polêmica quinta-feira. A nova administração americana incluiu em seu plano de resgate uma medida sustentável protecionista, interditando a compra de ferro ou aço estrangeiro para projetos de infraestrutura financiados pelo plano.
O assunto gerou muita polêmica entre os parceiros comerciais de Washington. O Canadá se disse muito preocupado e Bruxelas avisou que se a lei fosse adotada desta forma no Congresso, não ficará de braços cruzados, dando a entender que levaria a questão à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em Davos, a secretária de Estado francesa para o Comércio Exterior, Anne-Marie Idrac, manifestou preocupação com a notícia, que vai de encontro aos apelos dos dirigentes do G20 contra o protecionismo.
Os temores são palpáveis pois a atitude americana pode abrir um precedente em um momento em que, "até agora, cada um vem tentando manter o senso das proporções", nas palavras de Vladimir Putin.
Na realidade, as medidas adotadas pelos governos para reforçar suas fronteiras comerciais continuam ainda globalmente na mira da OMC, segundo a Organização, que divulgou uma lista dos países a vigiar.
A Argentina, a China, a Indonésia, o Equador, o Vietnã, a Índia e a Rússia, apesar desta última ainda não ser membro, constam nela. Assim como Bruxelas, com seus planos em massa para os bancos e a reintrodução dos subsídios à exportação de laticínios.
"Devemos continuar vigilantes", reconheceu em Davos o diretor da OMC, Pascal Lamy. A tendência protecionista americana, se for concretizada, pode ter consequências duras para o guardião do comércio onde as guerras comerciais vão se multiplicar.
Ela também será um novo componente de entrave para a Rodada de Doha, que deveria liberar as trocas comerciais, apesar de sete anos sem acordo.
» Crise pode levar a protecionismo, diz Brown