Inflação, burocracia e logística são vilões da exportação
Burocracia, problemas de logística, alto custo da folha de pagamento e tributação acima da média mundial estão entre os problemas enfrentados por produtores que se lançam ao mercado de exportação. O alto custo da produção acaba obrigando empresários a depositar suas esperanças no dólar - uma boa cotação, nesse caso, ajuda a diluir os gastos e tornar o produto mais competitivo.
Enquanto a maioria dos exportadores sonha com um dólar cotado entre R$ 2,20 e R$ 2,30, há quem acredite na possibilidade de trabalhar com uma moeda mais desvalorizada. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, voltar as atenções ao mercado brasileiro é essencial para corrigir os problemas de quem exporta. "Se o Brasil investir em infraestrutura, eliminar a defasagem cambial, fizer uma reforma tributária e reduzir em burocracia, é possível que os produtores consigam trabalhar com o dólar entre R$ 1,50 e R$ 1,60. Mas hoje eles ainda precisam tirar esses custos da cotação, o que torna o produto menos competitivo", diz. Castro reconhece que esse é um trabalho a longo prazo. "Nosso problema não é a taxa de câmbio, nós não deveríamos depender da cotação do dólar. Essa deveria ser uma questão secundária", afirma.
Se hoje a cotação da moeda americana parece guiar os passos de exportadores e importadores brasileiros, é quase unanimidade o fato de que, em tese, a questão deveria ser deixada de lado. No setor alimentício, os custos de produção são a pedra no sapato de quem busca espaço no mercado internacional. Para o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Bebidas e Alimentos (ABBA), Adilson Carvalhal Junior, o grande problema está na folha de pagamento dos trabalhadores e nos entraves logísticos. "Nosso mercado destoa muito do mercado internacional. Os outros países têm sistemas mais simples que o nosso", avalia. Entre os grandes problemas, o empresário aponta a lentidão das operações portuárias e a falta de tecnologia em partes específicas do processo de exportação. Ainda assim, Carvalhal considera difícil trabalhar com o dólar a R$ 1,50. "É provável que esse preço valha para commodities. No caso de alimentos e bebidas, que exigem mais acabamento, em melhores condições seria possível operar com o câmbio a R$ 1,80", prevê.
Dólar ideal varia entre um setor e outro, diz especialista
O professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Unisinos Igor Morais concorda que seja difícil traçar um dólar que agrade a todos os setores. "De fato, nossas maiores dificuldades giram em torno de tributação, custo trabalhista, logística e burocracia. Mas todos esses aspectos variam muito entre um setor e outro", diz. Morais cita o exemplo do setor agrícola. "O agronegócio tem um processo produtivo diferente. No caso da soja, por exemplo, o produtor planta, colhe e processa. A cadeia produtiva é menor, há menor incidência de impostos em cascata do que na indústria de metal-mecânico, por exemplo", diz.
O economista lembra, no entanto, que empresários do setor agrícola sofrem com custos de financiamento. "Há muita incerteza nesse mercado, porque a colheita é feita muito tempo depois do plantio, e esse é um período de vulnerabilidade. É diferente de uma indústria automobilística, por exemplo, que pega uma financiamento para ter capital de giro e em menos de três meses tem o retorno desse dinheiro", compara. Por conta dessas diferenças, diz Morais, é extremamente difícil apontar uma cotação ideal - ainda que fossem sanados os problemas de produção.
Ainda para Morais, a inflação é outro vilão dos exportadores brasileiros. "Nossa inflação anual gira em torno de 5%, enquanto que, lá fora, esse número não passa de 1%. Isso quer dizer que o custo de produção dentro do Brasil fica 4% mais caro do que o dos concorrentes todos os anos. O câmbio real passou a R$ 2, mas, tirando a inflação, é como se estivesse em R$ 1,92. O nosso custo de produção aumentou muito mais do que o do concorrente, e esse vai continuar sendo um problema para quem produz aqui", diz.