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Fundada por Ivã, o Terrível, cidade veste 'máscara' para sediar cúpula dos Brics

8 jul 2015 - 11h32
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Uma edição da publicada no Brasil na semana passada já alertava: apesar de a socialite americana Paris Hilton ter achado a cidade de Ufá, sede russa da 7ª Cúpula dos Brics, "linda e encantadora", nem todos que visitam a capital da Bachquíria "sentem a vibração logo de cara".

Escolha de Ufá para sediar reunião anual dos BRICS pode ter tido motivação política
Escolha de Ufá para sediar reunião anual dos BRICS pode ter tido motivação política
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Construída por ordem do czar Ivã, o Terrível, para proteger o território de invasões, Ufá não lembra nem de longe os tempos de fortaleza.

Encravada na Rússia Central, a mais de mil km de Moscou, próxima do Cazaquistão e dos Montes Urais, que marcam a divisa com a Sibéria, a cidade tem ruas largas, arquitetura insossa e luzinhas com aparência natalina acesas em pleno julho.

As centenas de placas do evento espalhadas pela cidade não deixam dúvida da importância para Ufá de sediar a cúpula dos Brics. Mas nos longos trajetos entre os hotéis escolhidos pela organização para abrigar jornalistas e o centro de imprensa, é difícil ver qualquer vibração.

Vazia

Apesar de ter mais de um milhão de habitantes, há poucas pessoas nas ruas e calçadas. A polícia, por outro lado, está em quase toda esquina. Os policiais se posicionam discretamente, normalmente sem carros ou presença ostensiva na rua; costumam ficar sozinhos ou em duplas nas calçadas.

Escolhida para sediar tanto a cúpula dos Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – a cidade consumiu US$ 189 milhões nos preparativos para o evento, de acordo com o governo.

A maior parte, US$ 108 milhões, veio de investimentos privados, com o governo federal e o da república da Bachquíria bancando o resto. O governo de Vladimir Putin tem interesse em mostrar pujança com o evento - a Rússia sofre sanções devido à crise na Ucrânia e o líder russo quer fazer do encontro uma demonstração de poder.

Os principais investimentos foram para a reforma do aeroporto e construção de novos hotéis – um deles, da rede Hilton, dá uma pista para justificar a propaganda positiva que a herdeira da rede fez da cidade.

Maquiagem

Nas redes sociais russas, os preparativos causaram polêmica: o governo foi acusado de maquiar a cidade para os participantes do evento.

Fotos publicadas por um blogueiro e compartilhadas por milhares mostraram casas escondidas por falsas fachadas, feitas de uma espécie de papel de parede, e também por grandes cartazes de árvores.

Um prédio antigo também teria sido escondido atrás de uma espécie de adesivo simulando uma aparência mais moderna. Além disso, calçadas de cimento teriam sido cobertas por grama falsa.

Pela cidade, a reportagem da BBC Brasil viu os cartazes de árvores retratados, mas eles estavam tapando obras.

Segundo a agência de notícias russa Tass, as autoridades de Ufá reagiram dizendo que o blogueiro não era mais bem-vindo na cidade.

Turisticamente, Ufá se vende como uma divisa entre Ocidente e Oriente. Ela não tem grandes atrações turísticas: segundo o , o melhor programa da cidade é visitar o monumento Slavat Yulaev (líder de uma rebelião no local), visível a partir do centro onde será realizada a cúpula.

Já o guia recomenda, em seu site, uma visita ao Museu Lênin, em uma casa onde o próprio líder da Revolução Russa morou por algum tempo, a 30 quilômetros de Ufá. A , suplemento em português financiado pelo governo russo, aconselha provar o mel de Ufá, especialidade local.

O turista que visitar Ufá, porém, pode ter problemas de comunicação: a maior parte das pessoas que a reportagem da BBC Brasil encontrou não falava inglês - mas elas não se abstiveram de falar em russo, mesmo sabendo que o interlocutor não falava a língua.

Exposição

Logo na entrada do centro de imprensa, há uma exposição sobre Ufá com basicamente quatro itens: uma maquete do antigo kremlin (fortaleza) da cidade, que não existe mais; um traje usado pelo bailarino Rudolf Nureyev, celebridade maior da cidade; um troféu do time de hóquei local e o motor de um caça produzido em Ufá.

A mostra termina com maquetes de projetos que prometem, nos próximos sete anos, mudar a paisagem da cidade – que, hoje, é marcada por alguns prédios de arquitetura funcional típica soviética, sem grandes atrativos e em tons pastéis - com prédios modernos e espelhados e grandes áreas verdes.

Na sala de imprensa, grandes telões mostram imagens turbinadas da cidade – luzes acesas à noite, prédios históricos, igrejas e mesquitas com iluminação especial e imagens aéreas do rio que banha a cidade.

Jornalistas que se interessaram em saber um pouco mais pela cidade ganharam pelo menos três livros: um sobre a história de Ufá, um sobre a Bachquíria e um sobre a Rússia em geral.

Mas qual o interesse da Rússia em realizar um evento de grande porte em uma cidade longínqua e pouco conhecida?

Para o professor de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel, o objetivo é promover uma cidade fora do eixo.

"Assim como outros países, a Rússia usa a cúpula para beneficiar politicamente um aliado e apresentar ao mundo algumas regiões que não têm visibilidade", afirma.

Ele lembra que, quando o Brasil foi anfitrião da cúpula, escolheu Fortaleza como sede do evento – um afago ao aliado Cid Gomes, que quando governador, construiu um grande centro de convenções que acabou sendo usado para o evento.

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