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'Estou permitindo igualdade entre sexos', diz dono de site de adultério

26 mai 2015 - 06h36
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Kim Gittleson

Ashley Madison
Ashley Madison
Foto: BBC Mundo / Copyright

Repórter de negócios da BBC News em Nova York

Empresa criada por Noel Biderman (ao centro) diz ter 30 milhões de usuários em 46 países

Noel Biderman parece ser o típico presidente de uma empresa de tecnologia: ele pontua seus discursos com palavras como "ruptura" e, claro, sua companhia não é apenas um negócio, mas uma ferramenta de "impacto social".

"Estou permitindo que as mulheres se equiparem aos homens", diz ele sobre seu site, o AshleyMadison.com, fundado em 2001.

A pegadinha é que se trata de um serviço para cônjuges que desejam trair seus maridos ou esposas, com um slogan nada sutil: "A vida é curta. Tenha um caso".

Ex-advogado da área de esportes, Biderman diz que muitas vezes teve de lidar com as consequências da infidelidade de seus clientes. Ele acredita estar promovendo a igualdade entre os sexos não por meio de salários iguais ou mais educação, mas ao ajudar mulheres a traírem com tanta frequência quanto os homens.

"Há muitos negócios voltados para homens, como agências de acompanhantes e bordéis. Então, queria me concentrar no lado feminino desta equação."

Por isso, ele deu o nome de Ashley Madison a seu site. Estes eram os dois nomes mais dados a meninas na época da fundação da empresa.

Seja qual for sua opinião sobre esta inusitada visão de igualdade, a aposta de Biderman na lucratividade da infidelidade deu certo: a empresa, que oferece serviços gratuitos para mulheres e cobra uma taxa para que homens criem seus perfis online e enviem mensagens, faturou US$ 150 milhões (R$ 450 milhões) em 2014.

Mas a grande questão agora, no momento em que a empresa tenta arrecadar US$ 200 milhões com a venda pública de ações em Londres, no Reino Unido - o que colocaria o valor da companhia em cerca de US$ 1 bilhão -, é se as pessoas estão dispostas a investir dinheiro na infidelidade.

'Negócios do pecado'

Portfólio de 'ações do pecado' costumam dar maior retorno a investidores, indica estudo

Esta não é a primeira vez que Biderman e a Avid Life Media, a empresa dona do Ashley Madison, foram ao mercado para se capitalizar.

Em 2011, a companhia tentou vender ações na Bolsa de Toronto, onda está sediada, mas foi forçada a retirar a oferta quando investidores rejeitaram a proposta do negócio.

Biderman acredita que este fracasso se deveu a um equívoco na escolha do momento para dar este passo. Hoje, o site tem 30 milhões de usuários em 46 países. Até então, atuava só nos Estados Unidos e no Canadá.

Ele acredita que Londres é bom local para fazer a venda de ações por achar que a cidade é um local mais confortável com "pecado e negócios controversos".

"Negócios deveriam ter um objetivo: dar retorno ao dinheiro colocado nele por investidores. Não se tratam de empreitadas sociais", ele afirma.

Em outras palavras, investidores europeus podem estar dispostos a ignorar algumas questões se as cifras forem boas.

E alguns dados apoiam esta visão focada nos lucros. Um recente estudo feito por três economistas da London Business School mostra que investimentos em negócios de tabaco ou diversão adulta normalmente trazem retornos melhores.

Outra pesquisa indicou que um portfólio de "ações do pecado" pode gerar um retorno de 19% por ano.

'Último bastião da moralidade'

Mas Biderman reconhece que a atitude do público em relação à infidelidade pode fazer sua empresa voltar atrás.

"Acho que, infelizmente, a infidelidade é o último bastião da moralidade - já nos sentimos mais confortáveis com relações inter-raciais e estamos fazendo o mesmo com aquelas entre pessoas do mesmo sexo. O mesmo deveria ocorrer com a infidelidade."

Mas ainda não parece ser a hora certa para isso - se é que ela vai chegar.

A BBC entrou em contato com dezenas de investidores e analistas para que opinassem sobre o modelo de negócios da Ashley Madison. A maioria não respondeu ou não quis dar uma declaração pública.

"Não estou propenso a opinar neste debate, já que se trata de um tema controverso", disse um deles.

E muitas das empresas de análise de audiência online não acompanham os dados da Ashley Madison ou sequer os inclui no universo de sites de namoro.

Outros questionaram os números divulgados pela empresa, depois que ex-funcionários e usuários reclamaram da existência de vários perfis falsos no site.

Serviços de infidelidade, como o site francês Gleeden, enfretam obstáculos legais

A empresa admitiu que muitas pessoas se inscrevem, mas nunca chegam a fazer nada além disso - o que é um problema em potencial para o negócio.

E, claro, há a concorrência. Gleeden, um serviço francês de infidelidade lançado em 2009, diz ter 2,6 milhões de membros, a maioria deles na Europa, e aplicar um "filtro" no conteúdo exibido em suas páginas, servindo como uma alternativa de "bom gosto", já que muitos perfis no Ashley Madison têm fotos explícitas.

Questões legais também são um problema para este tipo de empresa. Cingapura não permite que eles sejam acessados no país. A Coreia do Sul bloqueou o Ashley Madison e o Gleeden é alvo de um processo na França.

Por fim, apesar do site de Biderman alegar ser o segundo maior serviço de namoro do mundo, apenas atrás do Match.com, e ter uma quantidade de usuários casados bem superior à de solteiros, ele ainda enfrenta a competição de outros sites de namoro.

Um estudo recente da consultoria Global Web Indez mostra que mais de 40% dos usuários do aplicativo de namoros Tinder são casados ou estão envolvidos num relacionamento (algo que o Tinder diz não ser verdade).

'Onda de mudança'

Mas por que uma empresa assim precisa obter dinheiro no mercado para se financiar?

"De um ponto de vista financeiro, não entendo por que a Ashley Madison está em busca de investimentos", afirma Manuel Montevidoni, diretor financeiro do Gleeden.

Mas ele destaca que apoia o esforço empreendido pelo site de Biderman, porque gera publicidade para o mercado da infidelidade e uma conscientização pública de que se trata de um aspecto fundamental da vida, assim como o casamento.

Biderman acredita que não se trata apenas de ganhar dinheiro e rejeita o rótulo de "mau" dado a ele em algumas reportagens.

"Estamos mostrando à sociedade novos estudos que podem fazê-la mudar de ideia quanto às leis e à monogamia", ele diz.

"Estou no meio desta onda de mudança quanto à nossas crenças relativas a casamento e sexualidade - o que é um legado bem mais profundo que podemos deixar."

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