Especialista diz que empreendedor deve aprender com esporte
No Brasil, virou lugar comum dizer que o esporte, para profissionalizar sua gestão, deve mirar as empresas que são modelos de boa administração e empreendedorismo. Na Espanha, o discurso em voga é outro: o mundo corporativo tem muito a aprender com o esporte - e não apenas sob o aspecto da superação pessoal, que costumeiramente é usada como mote de palestras motivacionais em seminários. "O sucesso alcançado por um grande número de esportistas espanhóis na última década nos autoriza a propor este diálogo com o setor empresarial", diz o espanhol Jordí Díaz, diretor da EADA - Escola de Alta Direção e Administração, de Barcelona.
Díaz, que integra o Conselho de Administração da EADA e foi atleta da seleção espanhola de polo aquático, esteve no Brasil recentemente a convite da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing, onde falou a alunos, professores e empreendedores sobre as lições que o esporte tem oferecido aos empresários espanhóis.
"Todo setor tem regras próprias de desenvolvimento, mas existem ensinamentos universais que podem ser aproveitados em qualquer segmento", diz ele.
Jordí Díaz assinala que os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, são considerados o divisor de águas na história esportiva de seu país. "Antes disso, a Espanha não era protagonista nos esportes coletivas e tampouco nos individuais. Hoje, é a atual campeã europeia e mundial de futebol e possui atletas de ponta em categorias como o tênis, a Fórmula 1, o basquete e o nado sincronizado", lembra.
De fato, futebolistas como Casillas, Xabi Alonso e Sérgio Ramos, do Real Madrid, ou Puyol, Iniesta, Xavi e Davi Villa, do Barcelona, rivalizam com outros grandes craques do futebol mundial no coração dos espanhóis. E o bicampeão mundial de F-1 Fernando Alonso virou mania nacional, assim como o tenista Rafael Nadal. Nunca antes na história a Espanha colecionou tantos ídolos no esporte em um mesmo período.
"As Olimpíadas de 1992 separam a Espanha do passado da Espanha moderna, competitiva e, sobretudo, competente que temos hoje", afirma Díaz. Para ele, o Brasil não deve desperdiçar a oportunidade de fazer dos megaeventos esportivos dos próximos quatro anos - a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro - o seu divisor de águas. "O maior investimento não deve ser feito no futebol, em que o Brasil já é uma potência, e sim nos demais esportes. Mesmo que ganhe poucas medalhas em 2016, como aconteceu com a Espanha em 1992, vocês devem massificar a prática desportiva e criar condições para que os talentos esportivos se desenvolvam", diz.
De acordo com Jordí Díaz, os aprendizados que levaram o esporte espanhol a se profissionalizar em larga escala podem ser aplicados no dia a dia das empresas. Nesse sentido, ele destaca sete pontos como as chaves para o sucesso. Confira:
1) Fazer a gestão do êxito e do fracasso igualmente bem
"O esportista sabe que ser apontado como o melhor do mundo, hoje, não significa garantia de que manterá essa posição amanhã. Para continuar vencendo, ele tem de se aperfeiçoar continuamente. O mesmo raciocínio vale para a derrota. Uma lição que se aprende logo no esporte é que ninguém é imbatível. Então, você tem de aprender a administrar a decepção. Só fazendo isso estará pronto para aprender com seus erros e limitações a fim de disputar novamente com chance de vencer. Esta é, acredito, a principal lição que as empresas podem aprender com o esporte."
2) Trabalhar em equipe
"Ninguém vence sozinho", diz o executivo da EADA. "Se isso é fácil de perceber nos esportes coletivos, como o futebol, nas competições individuais requer ser detalhado. Um tenista como Nadal só vence nas quadras porque tem apoio fora dela. Assim como Fernando Alonso nas pistas. Isso quer dizer que não existe empreendimento capaz de se manter na linha do sucesso se não existir sentido de cooperação dentro da empresa entre os líderes e as equipes."
3) Capacidade de liderar e também de ser liderado
"Nas empresas, especialmente, se fala muito em liderança e pouco em capacidade de ser liderado. Isso não significa submissão e sim a percepção de que em determinadas situações é necessário ser capaz de assumir um papel secundário para facilitar o trabalho coletivo. Vou tomar como exemplo o time do Barcelona. Messi é o craque indiscutível, mas sabe que tem de aceitar a liderança do treinador, Joseph Guardiola, e de outros jogadores, como Iniesta e Xavi, para que o futebol da equipe seja forte como conjunto."
4) Busca do resultado
"Ninguém compete por competir. Mesmo o atleta que sabe ter poucas chances de ser o campeão disputa para melhorar suas marcas. Sem ambição de crescer não se vai em frente."
5) Tolerância à pressão
"No esporte, assim como no cotidiano das empresas, a pressão é constante. Em alguns momentos, testa os nossos limites. É essencial aprender a lidar com a pressão, sob pena de sucumbir em situações de muita tensão."6) Fazer da autoconfiança um instrumento de motivação
"O empreendedor, assim como o esportista vitorioso, deve conhecer o seu valor e pontos fortes para usá-los como motores de sua atuação."
7) Ter iniciativa e capacidade de decidir
"Para vencer é preciso atuar. Quem sabe o momento de tomar a iniciativa leva vantagem em uma competição. E estar pronto para tomar decisões com agilidade determinará a sua capacidade de reação em uma situação desfavorável, tanto quanto diante de uma oportunidade."
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Especial para o Terra