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Em cúpula, UE tenta abrir caminho para acordo ‘ambicioso’ com Mercosul

9 jun 2015 - 14h11
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Márcia Bizzotto

Reunião ministerial da União Europeia e Celac, nesta terça-feira (EPA)
Reunião ministerial da União Europeia e Celac, nesta terça-feira (EPA)
Foto: BBC Mundo / Copyright

De Bruxelas para a BBC Brasil

Negociadores apostam em 'mudança de clima', por conta de panorama econômico, para retomar diálogo

Aproveitando o momento de desaceleração econômica nos países sul-americanos, a União Europeia planeja dar os primeiros passos na direção de um "ambicioso" acordo de livre comércio com o Mercosul durante a cúpula que celebra com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta quarta e quinta-feira, em Bruxelas.

As negociações entre os dois blocos foram lançadas em 1999 mas ficaram paralisadas durante anos devido a diferenças a respeito da abertura dos setores agrícola e industrial. Desde sua retomada, em 2010, as duas partes ainda não realizaram nenhum intercâmbio de ofertas tarifárias.

Para tentar destravar a situação, a comissária europeia de Comércio, Cecília Malmström, convocou os ministros da pasta no Mercosul para uma reunião na quinta-feira, às margens da cúpula UE-Celac.

O encontro será o primeiro em nível ministerial desde janeiro de 2013.

"Não estamos começando do zero. Temos um bom entendimento dos interesses de cada um nessa negociação e das dificuldades que há adiante. Queremos continuar com o processo e devemos preparar os próximos passos cuidadosamente", afirmou Malmström em entrevista à BBC Brasil.

Novo 'clima'

Segundo um alto funcionário europeu envolvido nas negociações, o clima agora é mais favorável para a UE, que começa a superar a crise, enquanto que os países do Mercosul enfrentam o fim de um período de pujança, com o Brasil enfrentando uma possível retração de 1,2% no PIB deste ano, segundo previsões do próprio governo.

Além disso, nos últimos dois anos o bloco europeu assinou novos acordos de livre comércio em várias partes do mundo. Com exceção de Bolívia e Cuba, os países do Mercosul são os únicos latino-americanos que não possuem um tratado desse tipo com a UE.

"O clima mudou muito. Pode haver mais vontade de avançar agora em comparação com alguns anos atrás, quando (os sócios do Mercosul) se encontravam em uma zona de conforto", observou.

Para Malmström, uma maior abertura comercial entre os dois blocos é essencial para "aproveitar ao máximo o real potencial" de suas relações.

"Estamos comprometidos com fortalecer ainda mais essas relações tanto com países individuais como por meio da conclusão de um acordo ambicioso com o Mercosul", disse.

A comissária não descartou a possibilidade de uma negociação a duas velocidades, que permitiria ao Brasil avançar mais rapidamente que seus sócios na abertura de mercados.

No entanto, assegurou que a prioridade da UE é um processo birregional.

"Esta é uma decisão para os países do Mercosul. Se o Mercosul propuser mudar o formato das negociações, a UE deverá considerá-lo com atenção. Queremos um Mercosul forte e unido. Somos, por definição, grandes defensores da integração e encorajamos o Mercosul a seguir o mesmo caminho", afirmou.

'Novas realidades'

A cúpula UE-Celac reunirá os representantes de 61 países em Bruxelas. Mais de 40 chefes de Estado e de governo confirmaram presença.

Entre os ausentes se destacam os presidentes cubano, Raúl Castro; venezuelano, Nicolás Maduro; argentina, Cristina Kirchner; e uruguaio, Tabaré Vázquez. A presidente Dilma Rousseff chegará em Bruxelas nesta quarta-feira para o evento.

Ao mesmo tempo em que tratará de avançar no acordo comercial com o Mercosul, a UE também pretende lançar durante o evento os processos de modernização dos acordos de associação de livre comércio assinados com Chile e México há 13 e 15 anos, respectivamente.

Outro objetivo dos europeus é "adaptar a cooperação birregional às novas realidades no continente" latino-americano, explicou Malmström.

"Colocaremos um foco mais forte na cooperação em temas como pesquisa e inovação, investimentos, conectividade transatlântica em banda larga, desenvolvimento urbano sustentável e mobilidade estudantil e acadêmica", antecipou.

"Países como Brasil, Chile e Uruguai não estão emergindo: já emergiram há muito tempo. Não tem sentido manter o mesmo modelo de cooperação ao desenvolvimento que tínhamos até agora. Temos que aproveitar seu potencial outras áreas", disse o alto funcionário europeu.

Isso será refletido em uma versão atualizada do "plano de ação conjunta" que a UE e a Celac assinarão durante a cúpula de Bruxelas e em um memorando de entendimento para a instalação do primeiro cabo submarino de fibra ótica entre a Europa e a América do Sul.

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