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Dólar cai e volta a R$2,15, com dúvidas sobre atuação do BC e acordo nos EUA

17 out 2013 - 18h18
(atualizado às 19h52)
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O dólar fechou em queda nesta quinta-feira, voltando ao patamar de 2,15 reais, com investidores ainda questionando a estratégia de intervenções do Banco Central após o silêncio da sessão anterior, que levantou críticas nas mesas de câmbio mas não chegou a alterar a percepção de que as atuações diárias vão continuar, pelo menos por enquanto.

A queda também foi influenciada pela tendência global de depreciação da moeda norte-americana, animada pela percepção de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, deve manter por mais tempo seu programa de estímulos uma vez que a solução do impasse fiscal no país foi temporária.

O dólar recuou 0,70 por cento, 2,1593 reais na venda, quase na mínima do dia de 2,1573 reais na mínima. Em relação a uma cesta de moedas, a divisa operava em forte queda de 1,01 por cento. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,5 bilhão de dólares.

"O BC não vai interromper os swaps diários, mas ele está criando essa dúvida na mente do mercado", disse o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Na quarta-feira, o BC anunciou seu próximo leilão de swap cambial apenas após o fechamento dos mercados. Com o dólar abaixo do "piso técnico" avaliado pelo mercado de 2,20 reais, investidores passaram a especular se o BC manterá o ritmo de rolagens dos contratos que estão para vencer ou até mesmo se continuará com seu programa de intervenções diárias com a mesma intensidade, anunciado em agosto e previsto para durar até o final do ano.

De lá para cá, o dólar já acumula queda de mais de 11 por cento ante o real e, para parte dos agentes econômicos, poderia não ser mais tão favorável às exportações brasileiras, algo que desagradaria o governo.

O anúncio dos leilões de swap cambial tradicional --equivalente à venda futura de dólares-- costumava ser feito diariamente às 14h30 e, na véspera, ocorreu apenas às 20h. Com isso, a moeda norte-americana acabou fechando o dia com leve queda e no patamar de 2,17 reais, depois de ter batido na mínima de 2,1551 reais.

A postura do BC na quarta-feira confundiu investidores e levou muitos analistas a criticarem a política de comunicação da autoridade monetária.

"Desse jeito, o BC não transmite confiança, e deixa o mercado todo apreensivo", afirmou o operador de uma corretora internacional. "A comunicação do BC está deixando muito a desejar."

Nesta quinta-feira, no entanto, o BC informou que passará a anunciar a realização dos leilões diários de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra entre 19h30 e 20h30 por "questão operacional", sem entrar em detalhes.

Galhardo, da Treviso, ressaltou que, com o BC anunciando as operações após o fechamento dos mercados, o impacto de uma possível mudança no programa de intervenções seria sentido mais fortemente na abertura do pregão seguinte.

"Isso seria uma boa estratégia para manter o dólar alto, se ele vai agir sorrateiramente", opinou ele.

Nesta quinta-feira, o BC vendeu todos contratos de swap cambial tradicional ofertados com vencimento em 5 de março de 2014. O volume financeiro equivalente foi de 497,8 milhões de dólares.

SOLUÇÃO NOS EUA?

Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama sancionou, na madrugada desta quinta-feira, a lei que encerra a paralisação do governo dos EUA e eleva o teto da dívida pública norte-americana, logo após o Congresso ter superado um impasse que ameaçava provocar um calote histórico.

O acordo, no entanto, é temporário. A legislação emergencial financia o governo até 15 de janeiro e eleva o teto da dívida até 7 de fevereiro, quando os norte-americanos correm o risco de enfrentar uma nova paralisação, alimentando expectativas de que o Fed deve adiar a redução do seu programa de estímulos, no valor de 85 bilhões de dólares mensais, pelo menos até o próximo ano.

"A superação temporária dos problemas nos EUA pode levar o Fed a postergar a redução dos estímulos, o que vai estimular o fluxo no mercado", afirmou o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.

Essa tese foi corroborada nesta quinta-feira por declarações do presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, que afirmou que o banco central pode demorar meses para reduzir o programa de estímulo diante da interrupção do fluxo de divulgação de dados econômicos devido à paralisação do governo.

Além disso, 45 entre 72 economistas consultados em pesquisa da Reuters apostam que o Fed vai reduzir o estímulo no primeiro trimestre de 2014, com outros três afirmando que o banco central vai aguardar até o segundo trimestre. Vinte e quatro deles ainda esperam que o Fed freie as compras de títulos até o fim do ano.

Também contribuiu para a queda do dólar os novos sinais de que o BC deverá manter o atual ritmo do ciclo de aperto monetário. O aumento da Selic, hoje a 9,5 por cento, torna os ativos brasileiros no mais atrativos mercado internacional, favorecendo a entrada da divisa no país.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã desta quinta-feira, o BC informou que é "apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso".

"A ata do Copom trouxe pequenas mudanças em relação a ata de agosto, sugerindo que o BC pode continuar subindo a Selic a 0,5 ponto percentual na próxima reunião", disse o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.

"O dólar mais fraco favorece o controle da inflação e, pela ata, parece que o BC esta engajado em fazer com que a inflação entre na trajetória de queda", acrescentou.

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