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Divididos politicamente, Brics buscam promover comércio

14 abr 2010 - 18h32
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Os líderes dos quatro principais países emergentes - Brasil, Rússia, Índia e China, agrupados sob a sigla Bric - aproveitarão sua reunião nesta semana em Brasília para renovar seu apelo por maior influência na ordem econômica global, mas podem enfrentar dificuldades em definir uma agenda comum.

No ano passado, quando da primeira cúpula do Bric em Yekaterimburgo (Rússia), esses quatro países estavam à frente das pressões por uma reforma geral da regulação financeira global e pela criação de uma nova moeda internacional de reserva.

Mas, passado o pior da crise global, as diferenças entre os quatro países se tornaram mais evidentes, expondo as limitações das ambições do grupo.

"Não espere que os Brics façam propostas bombásticas ou revolucionárias, porque não vai acontecer", disse Roberto Jaguaribe, subsecretário de assuntos políticos do Itamaraty.

A busca de alternativas ao dólar como moeda global de reserva e o uso das moedas locais para o comércio não está na pauta oficial da cúpula de quinta e sexta-feira em Brasília, mas esses assuntos serão debatidos.

A sigla Bric foi cunhada em 2001 pelo economista Jim O''Neill, do Goldman Sachs, para descrever a crescente influência desses países que combinam grandes populações e grandes territórios. Juntos, eles representam cerca de 40% da população e 20% do PIB globais.

O quarteto deve certamente citar a sua crescente influência como argumento para que os Brics e outros países em desenvolvimento tenham mais influência em instituições financeiras como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

Divergência

Embora os quatro governos compartilhem de preocupações sobre a regulamentação financeira, eles têm pouco em comum exceto serem países grandes, com forte crescimento e grande mercado interno.

As relações da China com as vizinhas Rússia e Índia são complicadas por questões de segurança. China e Rússia, que são membros do Conselho de Segurança com direito a veto, não se entusiasmam com a reivindicação de Brasil e Índia para ascenderem ao mesmo status. Há diferenças também em questões relativas a clima, comércio e câmbio.

"A respeito de comércio e clima, é difícil ver mais do que uma declaração genérica pelo avanço das negociações globais", disse André Nassar, do Instituto para as Negociações Comerciais Internacionais, de São Paulo.

Grande exportador de alimentos, o Brasil gostaria de derrubar barreiras agrícolas, algo que a Índia reluta em fazer, para proteger os seus pequenos produtores rurais. Já a Rússia, grande produtora de petróleo, dificilmente aceitará metas ambiciosas para a redução de emissões de gases do efeito estufa.

No caso do câmbio, a desvalorização excessiva do iuan cria uma vantagem competitiva para as empresas da China, e na semana passada o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se juntou aos apelos dos EUA e outros governos para que Pequim valorize sua moeda.

Mesmo assim, não há expectativa de que Brasil, Rússia e Índia pressionem a China a esse respeito na cúpula.

"Acho que eles vão deixar isso para que os EUA resolvam", disse Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil na China e nos EUA.

Comércio mútuo

Sem uma agenda externa abrangente, os Brics devem focar no fortalecimento do comércio e dos investimentos entre os quatro países. Durante a cúpula, delegações de empresários, banqueiros, cooperativas e bancos estatais de desenvolvimento irão explorar possibilidades de negócios.

"Uma maior cooperação intra-Bric ajudaria os membros, já que isso pode emergir como um forte contrapeso às potências estabelecidas em termos econômicos e políticos", disse uma importante fonte do ministério indiano de Finanças, pedindo anonimato.

China e Brasil usarão a cúpula para assinar um plano estratégico de cinco anos com vistas a ampliar sua relação comercial. E empresas chinesas devem apresentar alguns novos investimentos no Brasil, que é um dos principais fornecedores de matérias-primas, como ferro e soja, para a China.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula é um dos últimos grandes eventos que ele pode comandar antes do fim do seu mandato. Ele deve usar a ocasião para reiterar o pleito do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Pequim vê o Bric como um fórum que lhe permite fortalecer seus laços com outras grandes economias emergentes, acentuando a percepção de que o país está atendendo aos frequentes apelos para ajudar as nações em desenvolvimento.

Por outro lado, a China não quer que o bloco Bric seja visto como um desafio aos EUA. "Viemos juntos buscar um benefício mútuo em vez do confronto com terceiros", disse o vice-chanceler Cui Tiankai.

Ainda assim, há temores de que o poderio econômico e diplomático da China possa acabar solapando o Bric como um grupo coeso, já que Pequim não precisa dos três parceiros para aplicar efetivamente sua pauta. A grandiosidade da sua economia também significa que uma coordenação de políticas com os outros Brics será difícil.

"O poder da China provavelmente será um desafio à cooperação do Bric e aos Brics como agrupamento", disse Michael Glosny, especialista em China do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

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Fonte: Invertia Invertia
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