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Casa em morro no Rio chega a custar R$ 700 mil

13 jul 2013 - 10h20
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A pacificação das favelas da zona sul do Rio de Janeiro trouxe mais segurança para locais antes muito perigosos. E, na esteira deste avanço, preços mais elevados nos morros. A especulação imobiliária e a ameaça de remoções agora obriga (ou seduz) moradores que já haviam criado raízes no morro a procurar um novo lugar para viver.

Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o preço do aluguel nas comunidades aumentou 6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o preço do aluguel nas comunidades aumentou 6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade
Foto: Giuliander Carpes/Terra

Quando serviços como bancos, empresas de energia elétrica e TVs a cabo entraram na favela, muita gente começou a se sentir impelido a partir - porque não tem mais dinheiro para permanecer ou quer fazer uma poupança com o imóvel que tem. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, o preço do aluguel nas comunidades do Rio de Janeiro aumentou 6,8% a mais do que nos bairros nobres da cidade, sendo que o valor de um imóvel na zona sul cresceu em média 45% nos últimos dois anos segundo o Sindicato da Habitação (Secovi). Mas há casos específicos em que a valorização passou de 100%.

"Viemos para a favela há três anos e já moramos em três lugares diferentes. Começamos pagando R$ 300 e agora o aluguel já está R$ 600. A favela está melhorando muito, mas ainda não dá para comparar com a estrutura de um bairro normal", disse Victor Pereira, que trabalha numa loja de eletrodomésticos em Botafogo e mora na favela Dona Marta.

É muito fácil perceber obras de reforma e expansão vertical de casas da comunidade. Barracos antes baixos agora têm dois, três andares, uma laje e até churrasqueira. "Tem gente fazendo puxadinho e alugando quartos para conseguir mais dinheiro e está cada vez mais difícil conseguir um lugar onde morar com um padrão aceitável", completou o morador.

As "propriedades" também se valorizaram. No Vidigal, morro entre os bairros nobres do Leblon e São Conrado, uma casa ampla e com laje pode chegar a custar R$ 700 mil. A reportagem do Terra encontrou um imóvel por R$ 500 mil na favela Chapéu Mangueira, no Leme, e chegou a "negociar" uma casa de dois quartos, três banheiros e uma laje coberta, tudo isso totalizando 119 metros quadrados ao lado do plano inclinado do Dona Marta. Sem escritura, apenas com uma carta de posse - as escrituras estão sendo distribuídas aos poucos.

"Faço por R$ 170 mil e você pode visitar a hora que quiser", afirmou o morador, que se identificou apenas como Dinho. Quando o repórter perguntou o motivo de se desfazer do imóvel, a resposta: "ah, já moro há mais de 10 anos aqui e acho que chegou a hora de voltar para a minha cidade no Nordeste."

A especulação imobiliária também é a explicação na ponta da língua dos moradores ameaçados pelas remoções da Secretaria Municipal de Habilitação (SMH) no topo do Dona Marta. O prédio que terá 64 unidades de 37 metros quadrados - ao custo de total de R$ 8,7 milhões - para cada família removida também está sendo construído numa área de risco, sobre um antigo lixão, reclamam os moradores ameaçados.

"Os boatos sempre têm um fundo de verdade. Muita gente já falou que querem construir aqui restaurantes ou moradias para gringos. Eu não ligo mais para a vista, moro na favela há 33 anos, mas tem muita gente que sobe aqui em cima só para ver. É muito bonita", contou Jocimara Liberato, que vive bem no topo da comunidade numa casa pequena com o marido e três filhos. Há outras 54 casas na mesma condição que a dela e cerca de 150 pessoas ameaçadas.

Jocimara diz que a prefeitura não tem mais feito obras de contenção de encostas no local e que os moradores são obrigados a pagar contas de energia elétrica. A reportagem do Terra chegou em sua casa bem no dia que uma destas faturas chegou e o valor cobrado era de R$ 48. "Deu até barata. Já veio conta de R$ 105. E tenho só um chuveiro elétrico em casa. Eu pago iluminação pública, mas aqui não tem. Se a gente não faz um gato, não consegue enxergar nada à noite."

Pressionadas pelo aumento dos custos e pela prefeitura, muitas pessoas têm preferido sair do morro, segundo a moradora. "As pessoas são vencidas pelo cansaço e vão embora."

A Empresa Obras Públicas do Estado (Emop) diz que a área onde o prédio para os removidos está sendo construído não é de risco, segundo relatório da Fundação Instituto de Geotécnica (Geo-Rio). A obra tem previsão de entrega para outubro de 2013, quando as remoções devem começar a acontecer. A prefeitura prevê o esvaziamento do topo do morro Santa Marta, a destruição das casas sob risco e novas obras de contenção de encostas.

Se o cronograma do governo do Estado e da prefeitura for cumprido, pouco antes da Copa do Mundo de 2014, já será possível ter uma noção real do resultado da transformação pela qual a primeira comunidade do Rio de Janeiro beneficiada por uma UPP está passando.

Fonte: Terra
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