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Brasil teme que espionagem na Petrobras afete leilão do pré-sal

MERCADOS - Matérias Primas

10 set 2013 - 05h33
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A denúncia de espionagem na Petrobras pelo governo dos Estados Unidos gerou preocupações de que os americanos tenham tido acesso à estratégia da estatal brasileira no leilão do pré-sal, o que poderia afetar os lances realizados por outras companhias na licitação da reservade Libra, disse uma fonte do governo brasileiro nesta segunda-feira.

Na avaliação da fonte, que falou à Reuters sob condição de anonimato, empresas norte-americanas poderiam usar informações confidenciais da Petrobras para preparar suas ofertas no leilão. E isso reduziria a concorrência e os lances ofertados ao governo brasileiro pela exploração da área de Libra.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a denúncia de espionagem não afeta o cronograma nem as regras do certame, uma vez que as informações sobre Libra, a maior área exploratória de petróleo do país, já estão disponíveis para as empresas interessadas no leilão.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, confirmou que o cronograma do primeiro leilão do pré-sal sob o sistema de partilha, previsto para dia 21 de outubro, está mantido e que as regras da licitação não serão alteradas. De acordo com reportagem veiculada no domingo pelo programa "Fantástico" da Rede Globo, o governo americano espionou as redes de computadores de empresas como Petrobras e Google, conforme documentos vazados da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês).

Em nota divulgada no domingo, o diretor do Departamento dos Serviços de Inteligência dos EUA, James R. Clapper, afirmou que não é segredo para ninguém que o país coleta informações sobre questões econômicas e financeiras, especialmente para proteger cidadãos americanos e os interesses dos aliados da nação. Mas ele ressaltou que o governo não compartilha segredos comerciais com companhias.

A reportagem não informou quando a suposta espionagem aconteceu, quais dados podem ter sido obtidos ou o que a agência estava buscando. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa concorda que, se realmente ocorreu espionagem envolvendo Libra, há risco de que lances do leilão sejam influenciados por tais informações.

"A história do petróleo sempre mostra que desde sempre ele é muito disputado pelos países", disse Costa, que atualmente é consultor. "Libra é uma área que não se tem igual no mundo, nesse tipo de leilão, aberto a outras empresas, é algo muito valioso", acrescentou, ponderando que é preciso antes de tudo confirmar se realmente houve espionagem. Segundo ele, a diretoria da Petrobras nunca desconfiou de espionagem, porque sempre confiou em uma série de sistemas de proteções de que dispõe.

A presidente Dilma Rousseff afirmou em nota divulgada nesta segunda-feira que, se confirmadas, as denúncias de espionagem na Petrobras mostrariam que os interesses da agência americana são econômicos e estratégicos, e não o de garantir a segurança norte-americana. "Se confirmados os fatos veiculados pela imprensa, fica evidenciado que o motivo das tentativas de violação e de espionagem não é a segurança ou o combate ao terrorismo, mas interesses econômicos e estratégicos", informou nota assinada pela presidente.

Na semana passada, a Rede Globo já havia veiculado denúncias de que a agência do governo norte-americano espionou comunicações privadas de Dilma. "Sem dúvida, a Petrobras não representa ameaça à segurança de qualquer país. Representa, sim, um dos maiores ativos de petróleo do mundo e um patrimônio do povo brasileiro", disse a presidente na nota.

Regras

Pelas regras da partilha, vencerá o leilão o consórcio que apresentar a maior parcela de óleo destinada à União. Mesmo que não participe do consórcio vencedor, a Petrobras será, por lei, operadora de Libra e terá participação mínima de 30% na área. Como a Petrobras será a operadora de qualquer maneira e a partilha garante ao governo poder decisão, as bases do leilão não têm como ser afetadas, afirmou uma segunda fonte, também pedindo para não ser identificada.

"É diferente de uma reserva em que não se sabe o que há. Nessa, a reserva já é estimada e, além disso, a operação será pelo sistema de partilha, com mais poderes exercidos pelo governo",disse. Libra será leiloada em um único bloco, porque o governo brasileiro teme que uma divisão em lotes poderia criar impasses jurídicos, com a possibilidade de um campo vazar óleo para o outro e a necessidade de acordos de unitização entre empresas, um imbróglio que ocorre quando há interligação entre reservatórios.

O programa Fantástico obteve as informações sobre a espionagem dos EUA na Petrobras por intermédio do jornalista e advogado norte-americano Glenn Greenwald, que escreve para o jornal britânico The Guardian. Greenwald, que mora no Rio de Janeiro, vem trabalhando junto com o ex-analista da NSA Edward Snowden para expor os programas de espionagem dos EUA. A denúncia sobre a Petrobras pode complicar ainda mais um impasse diplomático entre os EUA e o Brasil provocado pela suposta espionagem da NSA às chamadas telefônicas e emails da presidente Dilma Rousseff.

Road Show

A ANP informou que concluiu no fim de semana um roadshow internacional para divulgar a primeira rodada do pré-sal. A equipe da ANP apresentou em Cingapura, Londres, Houston, Tóquio e Pequim informações sobre a área de Libra. A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, disse a potenciais investidores que Libra é uma oportunidade única no mundo, tanto pelo volume estimado - de 8 bilhões a 12 bilhões de barris de óleo - quanto pela quantidade de informações disponíveis, pois já existe importante descoberta na área, com óleo produzido e analisado, disse a assessoria de imprensa da agência reguladora.

Fonte: Reuters News
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