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Ações da Petrobras desabam em 11% após balanço

Estatal não contabilizou as baixas contábeis pela Operação Lava Jato em seu relatório

28 jan 2015 - 13h46
(atualizado às 15h49)
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<p>Petrobras divulgou um cálculo sugerindo baixas contábeis potenciais de mais de R$ 60 bilhões relacionadas aos empreendimentos que são alvo de investigação</p>
Petrobras divulgou um cálculo sugerindo baixas contábeis potenciais de mais de R$ 60 bilhões relacionadas aos empreendimentos que são alvo de investigação
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

A Petrobras divulgou, na madrugada desta quarta-feira, o seu esperado balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014, sem incluir baixas contábeis por denúncias de corrupção, frustrando expectativas de analistas e derrubando suas ações em 11%.

A empresa, no epicentro da Operação Lava Jato da Polícia Federal que revelou esquema de sobrepreço em contratos, teve lucro de julho a setembro do ano passado de R$ 3,1 bilhões, redução de 38% sobre o trimestre imediatamente anterior e queda de 9,1% na comparação anual.

Apesar de não ter contabilizado a redução no valor de seus ativos, a Petrobras divulgou um cálculo sugerindo baixas contábeis potenciais de mais de R$ 60 bilhões relacionadas aos empreendimentos que são alvo de investigação.

Ex-diretor da Petrobras, Nestor Ceveró, é preso pela PF:

A apresentação do balanço da estatal de julho a setembro deveria ter sido feita em novembro passado, mas foi adiada após o auditor PricewaterhouseCoopers se recusar a aprovar as contas devido às denúncias envolvendo a estatal e algumas das maiores empreiteiras do Brasil.

"Concluímos ser impraticável a exata quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efetuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registros contábeis da companhia", disse a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, em comentários no balanço.

A empresa disse que tentou calcular as baixas contábeis em ativos envolvidos nas denúncias pela estimativa da diferença entre o valor justo e o valor contábil, e também a quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos a partir de informações, números e datas nos depoimentos à PF.

Cerca de um terço dos ativos da companhia, somando R$ 188,4 bilhões, passaram por avaliação, sendo a maior parte do trabalho feita por avaliadores independentes globais.

Segundo a Petrobras, o resultado das análises mostrou que parcela dos ativos está superavaliada em R$ 88,6 bilhões, enquanto outra está subavaliada em R$ 27,2 bilhões. Os valores indicam a necessidade de uma baixa contábil de R$ 61,4 bilhões.

No entanto, a companhia afirmou que desistiu de usar essa metodologia, "pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente".

Uma fonte próxima à companhia afirmou que a reunião do Conselho de Administração na terça-feira para aprovar o balanço foi tensa e durou mais de 10 horas.

Os ex-ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, chairman e conselheira da Petrobras, pressionaram o colegiado a não aceitar grandes baixas contábeis em ativos da estatal que poderiam ser percebidas como integralmente relacionadas às denúncias de corrupção na estatal, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato.

Isso porque não necessariamente a diferença total entre o ativo imobilizado e o seu valor justo é resultante de fraude. A identificação de falhas no planejamento de engenharia de um projeto, por exemplo, tem influência direta sobre seu valor justo.

No balanço, a Petrobras disse que continua trabalhando para produzir demonstrações financeiras revisadas pela Price no menor tempo possível. A empresa estudará outra metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores dos mercados de capital no Brasil e nos Estados Unidos.

Segundo informações da PF, de procuradores e dos delatores do caso, incluindo o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, executivos da estatal indicados por políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar refinarias, navios e outros bens e serviços.

O escândalo na Petrobras tem assombrado este início de segundo mandato da presidente da República Dilma Rousseff, que presidiu o Conselho da estatal de 2003 a 2010, quando era ministra no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Repercussão

A ausência de uma baixa contábil relacionada às denúncias da Lava Jato prolonga as incertezas sobre a saúde financeira da Petrobras. Muitos analistas criticaram o conteúdo do balanço divulgado.

"A intenção da companhia de divulgar o balanço não auditado foi para atender as obrigações da companhia com os credores, mas se não tem baixa contábil, para que serve?", indagou a XP Investimentos em relatório. "Permanecemos não recomendando exposição ao ativo. Só via operações estruturadas."

Às 12h41, as ações preferenciais da Petrobras caíam 11,21%, na mínima da sessão. Os papéis ordinários cediam 11,31%. No mesmo horário, o Ibovespa tinha desvalorização de 2,07%.

Analistas do Credit Suisse disseram que a ausência de baixas contábeis é "um sinal de que podemos estar longe de finanças auditadas, uma importante fonte de preocupação dos investidores".

A fonte próxima à Petrobras ouvida pela Reuters disse que a estatal deverá incluir baixas contábeis relacionadas à denúncias de corrupção no balanço do quarto trimestre de 2014. A previsão é que o documento seja divulgado, já auditado, até o fim de abril, segundo a fonte.

Balanço do trimestre

O lucro operacional da Petrobras nos três meses até setembro caiu 38% sobre o trimestre anterior, para R$ 4,6 bilhões.

A descontinuidade dos projetos das refinarias Premium I e II, no Maranhão e Ceará, informada no balanço fez com que a Petrobras incluísse baixa de R$ 2,7 bilhões no resultado. Além disso, pesaram os gastos de R$ 1 bilhão com acordo coletivo de trabalho e o pagamento de cerca de R$ 900 milhões à Bolívia por acordo para importação do gás natural.

Já a maior produção de petróleo e consequente exportação agregaram R$ 2,4 bilhões ao resultado operacional do terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores.

O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, indicador do desempenho operacional, somou R$ 11,7 bilhões no terceiro trimestre, ante R$ 16,2 bilhões de abril a junho de 2014 e R$ 13,1 bilhões no terceiro trimestre de 2013.

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